domingo, 15 de novembro de 2009

Poema sem versos




Foto: São Paulo - out 2009

AVDI VIDE TACE - SI VIS VIVERE IN PACE
Você não me incomoda. Tu não me incomodas.
Eu sei. Eu digo: - eu sei.
Mas eu tenho outras esperanças - diferentes enganos.
– Você sabia? - Tu sabias?
Escorei-me neste divã rude e cheio de dores. Em ti, em você,
criei desculpas às acomodações, às perdidas expectativas,
Fomentei-as ao divino verbo, e agora minto para mim.
Sem nos conhecermos, ouvimo-nos e sentimo-nos à hora exata
a mesma dor. Calamo-nos, então.
Pois a todos nós não nos falta o incomodo da postura realista
da vida incomum do que não somos nada. Nunca fomos!
Você sabia. Tu sabias.
Outro dia, desses malgrados dias cujas notícias são sorrisos perdidos,
a indiferentes interesses, bateram-me às costas: - Olá, como vai!
Como vão os anos vividos? - me indagaram. – Eu disse também olá!
Mas dos anos vividos eu não sei nada. Não os vi.
Mas por que eu deveria saber do paradeiro desses anos curiosamente?
- Porque eu não sei, parei ao silêncio. - Respondi somente dos anos
que eu sabia, sem mais compreender a árvore muda à qual cheguei.
Se pouco fruto deu a minha escolha rara desse sonho, um fruto doce
realizou. Você já o viu, você já o sentiu à felicidade do frescor dos
meus anos amanhecidos.
Então, não me veja assim ao acaso nessa jornada de argumentos tortos,
pois a construí com o legado do trabalho livre e disperso. Contudo,
cheguei aqui nesta Corte da meia-idade lúcido, juntei-me aos
outros vencedores, idealizadores de fortunas, para comemorar um feito
ao doce, ao vinho do meu sangue.
No dia dos meus aniversários, convidados e não convidados riem sozinhos
por contentamento, presumo. Não há discórdia nem falam alto, comem e
bebem minha lágrima em gotas d’ água in salada verde, tons amarelados.
Parecem-me divertidos, somam-se a outros discursos do que foram,
do que são e provavelmente do que serão amanhã,
às segundas-feiras.
Pois, assim, quem vem quem veio ao meu aniversário já viu, ouviu,
vê agora de tudo colorido, e sente à noite deste novembro cálidos
prenúncios do bom tempo.
Se frio o céu escuro de quem deixou longe as esperanças,
contínua e complacente as águas dessas fontes transparentes,
cachoeiras originais sem serem diferentes. Pois, então, fiquemos
assim desse jeito atento a olhar sobre os ombros o infinito,
sem nos darmos conta - neste dia – do pouco ainda que realizamos,
porque a distância diante dos olhos que se reparam é a história afinal
de cada um de nós - vale visto do cimo da montanha.
Sejamos por todos reunidos e felizes ao encontro casual à ordem merecida,
de modo, a saber, dos anos ditos fios d’ouro branco, amanhecidos outonos
de primavera tropical. Aos ares, as nuvens e as conversas,
os sem-fins discursos orgulhosos se produzem ao promissor porvir.
Cesse os argumentos por que fomos iguais, por que queríamos
ser diferentes, por querer ser coisa alguma do que não fomos,
por que sejamos ídolos de nós por que pensamos amar por inteiro
os nossos filhos, os nossos verdes outros pais.
Você não me incomoda, tu não me incomodas. Assim, como um sonho,
vêm-me às lembranças os teus martírios, os teus desejos.
- Somos o sumo do que fomos, presumidos!
Você sabia – Tu sabias.
In Verdades -15 nov 2009