segunda-feira, 28 de abril de 2008

Dispersos de Abril

Os Dez Mandamentos: Moisés - "é ficção cristã" - G1 globo.com

Você provou desse pão-de-mel, sentiu o sabor desse fel, viu-o escurecido entre bolores feltro mofo, rançoso, amassado, triturado a dentes amarelados pelo tempo dos homens aos poucos desgastados e contínuos, capengando a delicada memória, terceira estação, vai-se sumindo o obséquio gentil em gemidos surdos, fios grisalhos nos meus umbrais.

Foi assim, foi por estes e outros motivos que passei por aqui e estou a conferir todos os meus passos, nem vim a ti me queixar nem deixar saudades marcas na tua boca de doces feles, em mim sou o teu espelho, na minha criança, na tua criança somos as fotografias amareladas, somos os rios transformados perenes do sacrifício dos pensamentos.

De mim, tem haver o tempo quem diz, sou também outro acaso que por contagem aleatória do Universo, restou-me então viageiro dos céus que não me pertence, que não me deu a natureza moradia como aos deuses que os inventamos têm mitos contínuos de mim e de ti e das histórias que contamos a meigas criaturas da inocente pureza da decência do meu e do teu espírito.

Vem cá minha pequena, vem cá sorrir! Vem à tua flor. Não te fujas, nem de mim! Vem cá a ter comigo, o teu sorriso o sono da alegria, Vem ao fruto natural, sorrir de mim, evitar por fim que eu suma atônito, outras vezes, pois, aqui a toda hora encontrarás a sorte no teu caminho, se não for a essa hora ingrata ao teu desejo tino. Vem buscar-te em mim o que já fui.

Caminhemos então por este abril das ondas quentes do verão que restou dos sóis às vias poluídas de canais odores aos restos das chuvas a nos ordenar os pensamentos das idades antagônicas do teu e do meu horizonte. Vem cá pequena correr comigo a maratona da idade, vem cá perceber o que é saudades sem ter-se imaginado quem partiu.

Vem cá pequena a ter comigo desta fonte insana o que é o viver a ter contigo o gozo dos prazeres dos ofícios que me deu a vida à tua aventura livre de nascer e de passar a ti os sonhos do futuro que eu também não sei se vão p’ra longe os teus desejos. Nos teus loros fios de cabelo, fica o meu ingrato tempo pesadelo em choro da criança que ainda resta em mim.

In Verdades - abr 2008

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Fascínio -92

Fotografia: Nuno Lobito "Com Muito Amor" - Olhares.com
Fascínio
Você
Passou a ser-magia
Que reluz néon
Que me deixou
Encantado
Daí
Estou assim
Perdido
Noite-é-dia
Você - poesia!

In Janelas abertas - ed. nov 2007

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Pronto-Socorro

Praça do Patriarca - São Paulo-BR
I
Findou o mês de outubro àquele dia. Ainda havia ventos frios... Ouvi dizer que os ares estão mudando o planeta, se para melhor ou se para pior, não sei bem dizer. Procuro vozes no tempo para me contar para onde vai o vento, se pros oceanos, se pros desertos. Os homens vão pra muito longe ou vêm aos hospitais queixar-se.

Novembro, quatro correntes de vento gélidos se vão em noite úmida. Tem chovido pouco neste início do mês -9 horas e 32 minutos-, a noite é morna e brisas gélidas me dão a sensação de outono-inverno meia estação subtropical. A cada instante que passa é mais um desperdício do meu sono, irrequieto. Da ponta da minha língua vem uma áfita por qualquer coisa ingerida às pressas que ajudou o meu stress a me trazer cá ao Samaritano com mais rapidez, hospital do tempo dissipado, gélido igual aos ventos. Não estou enfermo, mas ansioso. Minha mulher queixou-se de dores sub-abdominais, eu não sei avaliar tais diagnósticos, cistite, gases, talvez, palavras dela, por isso, vim socorrê-la ao Pronto-Socorro. Meu filho Enzo, 3 anos e 10 meses, dorme no banco traseiro do automóvel. Demora-se o pronto atendimento e os ventos frios me acompanham.

Sou plantonista com olhos de coruja mãe. Do banco do timoneiro, sou prontidão. O parque do estacionamento está movimentado, entram e saem automóveis polidos, alguns de janelas escuras que não se dão notícias. Não é novidade num estacionamento de automóveis, neste bairro, do pronto-socorro, tanto movimento de autos novos, ambulância agitada de luzes avermelhadas, pessoas apressadas, mães com crianças acobertadas com lençóis. Pais apreensivos fumam e alongam-se às paciências em chaminés a cheiro de tabaco. Homens fortes em ternos escuros, aparentemente, rudes e grandes, com seus talkmen ambulantes, são solidários entre si, conversam à distância. Talvez, discutam regras de disposição das máquinas e do comportamento das pessoas, alguns se agitam impacientemente no páteo, assistido pela guardiã da locadora. ­

Não sei quantas horas mais terei de esperar. Meu Enzo dorme. Ouço seus suspiros ofegantes. Mal acomodado, mexe-se, retorce-se. Mamãe à espera pacientemente pela burocracia do atendimento, sentada e sentindo dores ainda? Vejo-a através da transparência da porta-entrada de vidro, paciente impaciência. Saúde neste país demora muito. Casos extremos, sem nenhum “privilégio”, que não podem esperar nem um pouco a mais, morrem moribundos da má sorte em corredores da saúde pública. Impaciência também tem limite, paciência não. Devo esperar.

O privilégio de não se ter que esperar por socorro custa o tempo mínimo que se tem entre a vida e a morte. Não é este o caso. Mas se gasta com previdência pública e privada, e ainda, se tem que esperar enfadonhos atendimentos. - É mais sensato esperar por previdência privada? -É possível que seja. Tudo é caro e a qualidade dos serviços se conta sim, com muita paciência ou, então, não se deveria esperar tanto, se o atendimento é privado, exigimos então, no mínimo mais rapidez. Mas isso também não acontece, porque há dinâmica a outras emergências. Enzo dorme. Minha mulher é a impaciência sem emergência, indigna-se e acalma-se, e tem-se na esperança o amor e depois.

O relógio do descanso não pára, adiantam-se as horas. Meu corpo está cansado. Meus olhos ardem e reagem à fumaça de fumos e de monóxido de carbono, a poluição da impaciência aumenta e também dói. O pouco espaço entre o volante e a minha barriga me sugere o pavor da noite longa, e o marasmo das estações de rádio em marteladas maçantes repica aos tímpanos os ventos frios. Ouço no rádio do meu console a moça do tempo: amanhã vai chover. -Choverá? -Previsão para essa quarta-feira. – Meu Deus, amanhã vai chover! Tomara que seja à madrugada!

Se o homem pudesse, criaria um elo entre o tempo mítico e as origens dos males de então e de vindouros, e a solução deixava que as águas levassem a doença humana por esses rios diluídos, à madrugada, assim, ninguém ao amanhecer se lembraria do caos nem da lama. Todos os males assim seriam lavados ou preventivamente curados com as águas da quarta-feira às cinzas cinza. Aquelas crianças parariam de chorar, aquelas senhoras sonolentas, agora, estariam em suas casas descansando com seus maridos, aqueles senhores fumantes beberiam água ou vinho e estariam dormindo ao sono de amanhã, minha mulher, branca e alta de um louro escuro, talvez, já de faces mais coradas, ouviria as minhas reclamações, mas sorrir-me-ia sem mais dores nenhuma e mais feliz ao milagre das águas da chuva.

A vida é assim, às vezes, longa ou curta, mais ou menos doída para alguns, outras vezes, nada disso acontecera. Às vezes, a vida vem de corações para corações ou vão para corações transplantados e continua. Essa vida de distante, diz-se que vem de um tempo imensurável, sequer se sabe ao certo onde teria começado e nem aonde haveria de terminar. Há vida que vem capengando por ambulância, outras não chegam sequer ver a luz vermelhas tremulando do mundo, sucumbem-se e, nem se vêem capengando em nenhum lugar, perecem sem dizer aos pouquinhos nada a ninguém e fim.

Atrás do automóvel parou uma ambulância girando suas lanternas coloridas, há movimento de homens-bombeiro e civis consternados. Agem rápidos. Não notei a saída de nenhuma maca. Quem sabe a vida foi socorrida a tempo. Penso que seja um homem ou uma mulher, talvez uma criança grande que não a vi entrar. Embora haja hoje muita gente socorrendo animais de estimação, será? -gato, rato, cachorro, iguana, lagartixa, baratinha branca, tatu, porco-espinho ou, até mesmo, um passarinho doce que cantava triste a ilusão da liberdade, pois, mal interpretado, a solitária dona teve indigestão compulsiva de compaixão: mas não compreendeu o canto da avezinha infelizmente, ainda solidária à reencarnação, correu para o Pronto-Socorro dos animais, para tentar salvar a avezinha. Não sei. Tenho dúvida. Mas foi rápido o desfecho em volta da ambulância. Não vi o enfermo passar nem chorar, nem tampouco o canto do sabiá.

Pessoas transitam acompanhadas ou sozinhas pelo corredor ou pelo páteo do estacionamento. Alguns pagam taxas de permanência à moça da guarita que com um aceno aos homens fortes, num instante, aparece o automóvel e sobre as quatro rodas, alguém se vai sob as luzes das alamedas de Higienópolis ou Perdizes, porque esses bairros contíguos me confundem. Nunca sei se é um ou outro. Ainda mais nessas condições de padrinho do tempo vazio, d’onde só sinto a brisa gélida desses ventos daqui e ainda assim me dói a espera da minha paciência.

O relógio do painel marca o tempo suportável, possível ao meu tempo contínuo. Passam as horas e meia, enfadonho e solidão. Enzo se mexe no curto espaço do sofá traseiro da máquina rudimentar, mas soberba dos homens ditos modernos - brinquedo efêmero da necessidade adicional ao tempo possível da viagem da espécie de primata avançado, mas mutante breve. A moça do rádio anuncia: vinte três horas e trinta e um minutos em São Paulo.
- Mentira!
“A mentira não está no discurso, mas nas coisas”.
Então as coisas são mentiras e o discurso pode ser meia verdade, porque o discurso diz da mentira das coisas.
Mas por que meia verdade o discurso e não uma verdade inteira?
— Porque aí entraria o prolator da dita meia verdade que também é uma mentira. — Efêmera mentira!
— De que coisas você fala, homem solidário?
— Falo da vida.
— Então, tomo suas palavras, a vida do homem é uma mentira?
— É. A vida per si é uma mentira absoluta.
— Mentira absoluta!
— Eu sou uma mentira? — Absoluta!
— Sim. No Universo grande, flutuamos.
— Somos bolhas d’água avulsas.
— Sangue éter da própria esperança!
— Mentiras absolutamente.
— Vale-se do que é escrito só enquanto se lê o manuscrito.
— E depois acaba tudo.
Ainda manobro últimos instantes, cansado, às pressas, vem a mulher a ter-se a nós, convencida da cura dos males inoportunos e da glória do sono do menino.

In Verdades - 11 abr 2003

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Lucia -Aprile 11

Fotografia: Susana Camões - In olhares.com

Vieste das nuvens dos meus sonhos e de muito longe,
E entraste sorrateira silenciosamente na minha vida e
Ficaste na minha alma à porta do meu coração.

Assim, porque não me disseste nada, não te imaginei.
Ainda não sei de ti. Hoje se me pergunto a toda sorte,
Sou, dos homens o acaso em vida, agora e mais feliz.

Se for o acaso, pois, sei que foste destinos in gloriam.
Se fora a coincidência, pura de felizes acasos à sorte,
Não sei. Talvez, jamais eu saiba – Madona! Vieste-me,
Tão-somente tão contente, viste-me à terra de incultos.

Postaste-me em árvore frutífera e renasceste em mim.
A tua coragem me acontece, o teu instante seren’oras,
Tempos preciosos. Tu és hoje minha humana História,
Entusiasmado coração, sinto-te e carrego-te comigo à

Devoção a merecer-te em risos, sonhos da realidade.
Tu és o meu caminho, tu és o livro, meu soberbo tino,
Páginas dos meus percalços em trilhas claras, vivos.
Carrego-te sempre ao coração, exponho-me, amo-te.

De mãos atadas, seguimos igual caminho livre, sê à
Noite, sê no dia, ao meu contentamento, quão amor.
Vem ter comigo anos outonos de flores, rosa branca,
És o meu culto. Vem-me florir esta estação do amor!

Vem! Dá-me a tua mão, meu porto seguro, Sigamos!
Passemos, então, por essas vias vencidas de restos!
Corramos Mulher - presente rosa vermelha - jasmim!
- Nascer hoje em mim, Sejas Tu o meu doce, amores!

In Verdades - 11 abril

Crisântemo -90

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Feliz aniversário!
Sete de junho de tantos vindouros
Bela flor encantada
Estrela candente
Sol que nasce e desce todo dia

Feliz aniversário
Meu amor!
Parabéns!

Manhãs tantas virão inesquecidas
Primaveris tardes ficarão agradecidas amanhã
Quando o sol não tiver mais os teus olhos
Dezoito anos vencidos ficarão eternos

Olho pro céu e vejo a lua à magia das cores!
É alta é cheia e brilha olhos claros querida!
E as estrelinhas ‘inda enciumadas
Cantam o hino toda hora
Parabéns p’ra você!

In Janelas abertas - ed. nov 2007