sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Da sertanização, imagina-se -quê?

Destinos Jalapão
O deserto brasileiro

Imagine um lugar seco, muita areia, grandes dunas, sem vegetação e poucos animais vivendo neste ambiente tão inóspito. Água restrita, somente aquela que cai com o orvalho da noite. A palavra deserto provavelmente conota está visão.
A região do Jalapão, no Tocantins, é chamada de deserto do Jalapão, mas se você for para lá pensando em conhecer um deserto com as imagens descritas no texto é melhor mudar a sua passagem para o Saara. A região é formada por uma densa vegetação de cerrado baixo, a água flui exageradamente formando rios, brejos e lagoas, onde muitas espécies de animais encontram alimento em abundância. É possível encontrar espécies típicas do cerrado como o tamanduá-bandeira, veado-campeiro, capivara, ema e a onça-pintada. Casais de araras, tucanos e muitas outras aves ajudam a compor o cenário. Assim é o deserto do Jalapão.



Bufogranulosus

Globo on line, 23/5/2005
“A afirmação de Fernando Henrique Cardoso, de que a “sertanização por que passa Brasília pode atingir a democracia”“.
FHC parece que ficou doido, deve ser a senilidade evidente. Existem quintais onde há galinhas velhas que depois de cansadas de guerra, longas lutas perdidas, e de terem procriados ovos mesquinhos que alimentaram lagartos do mal e cobras venenosas, ainda se insinuam para galos velhos e duros de quintais vizinhos. Sai pra lá cascudas das fertilidades estéreis! Assim é a prática do longo tempo da democracia brasileira e mais recentemente faz pouco mais dez anos.

Do 8° encontro do PSDB-SP, FHC saiu cacarejando: o governo Lula parece “peru bêbado no carnaval”, Genuíno diz que “é inveja” do velho galo, ancião teimoso, muita gente também pensou assim. Falou também da “sertanização” de Brasília, nessa, ele deve ter razão —, Brasília fica no planalto central, isolada no interior do continente, longe do litoral, faz sentido um dia, virar sertão, profecia do beato conselheiro – “O sertão vai virar mar / Dá no coração / O medo que algum dia / O mar também vire sertão” - nos versos e música de Sá-Guarabira.

“O País -diz o ex-presidente FHC - está sem rumo”. Entretanto, fez oito anos de, ou melhor, ficou presidente do Brasil, antes ministro oriundo da demagogia. Fez confrarias com países europeus, mereceu títulos honoris causa a dar com pau, de monte, agraciado em suas viagens, somente ao exterior, muito caras ao contribuinte, vendendo estômagos vazios de brasileiros “vagabundos”. Por fim, ainda bem, os vinhos argentinos e chilenos –malbec- aumentaram a demanda e prevaleceram e invadiram as prateleiras de supermercados paulistanos a buon mercato.

O poliglota nacional, sociólogo, professor, conferencista, esbanjava competência, em nome da modernidade vesga americana e européia, vendia de tudo, que lhe desse a telha de seus cabelos brancos, vontade absoluta, bem baratinhos. Haja patrimônio público a depilar! Conseguiu até a aumentar a mão de obra barata no país, porque muitos cidadãos perderam o emprego e buscaram a informalidade, outros a marginalidade. Justificativa-se a sobrevivência. O saldo da política do governo de FHC é muito mais que isso:

Na saúde e educação e segurança, sabe-se que não há insatisfação popular, nunca houve abandono. No funcionalismo, que maravilha ficou o Estado organizado, dívida pública, corrupção nas gavetas, inflação não havia em mãos partidárias, nem dinheiro no bolso do cidadão, justiça. INSS, direitos adquiridos, nossa mãe do céu, quanta melhoria fez-se no jalapão sem camisa às havaianas desgastadas!

Note-se em vésperas adiantadas de eleição ao sertão visionário concebível, vale de tudo que possa angariar votos e fundos para se afirmarem às disputas eleitorais partidárias de quintais. PSDB comanda o arrastão, PTB, PDT, PMDB, PFL do novato DEM e do mais ordinário PP dão sinais da secura no sertão, mas preferem assim os novíssimos coronéis a distanciarem-se dos pts à revolução dos animais.

Competência e retórica são irmãs matreiras, não faltam nos discursos institucionalizados. Percebe-se que o transporte, a educação, a saúde, nunca estiveram tão bem nem se ouve falar de morte à míngua em frente dos hospitais públicos, precários cidadãos. Vale dizer, trindade atuante, a profana hipocrisia medieval caminha-lesma a fazer muralha aos bons ventos da Democracia soprados no Jalapão. Está na hora de FHC deitar-se ou curtir seus dotes avançados calado, recente fortuna emergente da sorte.
In Verdade - jun 2005

Diário noturno -88


O condor andino é uma das maiores aves de rapina do mundo. A liberdade é parte de um programa nacional de reintrodução da espécie em seu habitat natural. (Foto: Martin Acosta/Reuters- globo.com -19 set 2008)

Três horas da manhã. Hoje é 13 de janeiro de 1988, memórias pródigas do que serei no futuro – futuro! Mas que futuro cabe aos homens que não dormem a não ser a ter fadiga, ainda que a liberdade seja um dom só de quem voa alto. Condor, Condores não dividam comigo a liberdade vigiada de estreitos laços que nos prendem às mãos dos senhores dono do céu, pois, também, mamãe se sentiu indisposta, com fortes dores nas costas. Pus-me a socorrê-la às presas, pronto-socorro às mães que sofrem e não dormem.

Sou a vigília da lua, somente da lua, comprometido com o mundo. Faz-se silêncio mudo! O galo canta distante, ainda, insiste em um canto salvo à madrugada, talvez, desafiando os giros do astro-mundo, eco nos vales entre rochedos das montanhas, eco à rouquidão dos meus e dos teus desalentos.

Papai diria que o canto da ave é novo e de muita esperança. Cá estou com meus anseios, sem objetivos, nem triste, nem alegre, nem esperançoso. Sim, apenas complacente, costurando enquanto especula os votos dos pensamentos: cada um de nós é uma esquina tortuosa e dura o tempo incerto de que eu terei de passar à noite, escuro é o céu do infinito.

Vou caminhando, assim, sem ter lugar nenhum p’ra chegar. O marasmo é a consciência de quem purga e purga e tem na esperança a salvação. A insônia é a senha para se regenerar dos atos que não se cometeu, porque dos assumidos nem São Pedro daria mais a ouvidos, e sendo assim, eu, cristão convencido e completo, cheio de boas ações, sou ateu convicto indiferente aos meus pecados, mas arrependido alheio a outra coisa estranha qualquer.

Mas nesse ciclo guardo um álibe: toda madrugada gero fortunas gratuitas aos moribundos. Por isso, estou tranqüilo e caminho sem o sono. Quanto às lágrimas, não são minhas. São das estrelas que navegam em mar aberto e sem destino. Logo, viro o horizonte, eis o arco da lua, da metade da lua, que me separa, às vezes, do teu destino, ingrata soberba luz.

Penso no amanhã, é hoje. Tenho a sensação da eterna morada, pois, tão perto é a subjetividade que me arrasta para janeiros vindouros sem ninguém saber dos meus porquês.

E agora de onde vem o choro da criança? — Vem do vizinho d’outro lado da rua! As crianças choram quando desconfortadas. Os homens, o homem, eu choro quando confortado e alimentado, mas perdido entre vãs maneiras de me sentir adulto.

Absurdo! Tudo é normal é absoluto, pois, absurdo é tudo, absolutamente. Cessou de chorar a criança. Ouço agora os grilos noturnos. Aos meus ouvidos, os grilos nas entranhas da alma, são gatos abandonados, impiedosamente miando, miando, miando, chorões irrequietos, mas indesejosos, pode ser igual a um-outro-ser triste e solitário-noturno, chorando e miando e mal-nutrido de esperanças. -Estranho animal que ronda as madrugadas.
In Verdades - 13 jan 1988

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Quarteirões -bairros e quintais!

globo.com 15/09/2008
nova espécie -Martialis heureka- vovó das formigas- descobrta na Amazônia

Quarteirões - bairros e quintais!

Ainda bem que a cidade não carece mais de demagogos, para seguir o predestinado progresso. Às vezes, São Paulo se aborrece e se agita. É o cotidiano violento: assalto à mão armada, homicídios, rebeliões nos presídios, abandonadas crianças, congestionamento nas filas das repartições públicas e de bancos famigerados, quilômetros de engarrafamento nas ruas, muito trânsito de autos e gente, buracos nas vias públicas, poluição generalizada, o sol ardente e tantos outros álcoois nas ruas inconseqüentes.

Os paulistanos são submetidos todos os dias a desordenado progresso e para desconsiderar mais ainda as vidas, a chuva escassa, abundante o sol da seca estação. São Pedro teve lá suas desavenças com São Paulo, todo bom cristão sabe disso. O apóstolo Paulo foi por tudo sábio, talvez, cobriu a ineficiência dos administradores do chão pecador, e a deixou a seus co-cidadãos a dor mais cristã.

Nessa temporada de aviões sem pistas, deu-se o caos, bastou chover algumas horas para a cidade mostrar as provas do descaso e do apagão do dinheiro do contribuinte e se não bastasse a educação, o transporte e a saúde pública serem exemplos de horrendo babel. Os córregos, os bueiros, as favelas, os grandes esgotos-rios correm e deságuam os vestígios nas marés ameaçadas, em ritmo de tanta gente, mostram-nos as caras em agonia.

Logo aparece o político bom, traiçoeiro homem, velhaco, e funcionários medíocres da esperança do povo, a discutir “a competência” da desilusão. O governo médico deita-se sobre um croqui de gráficos aparente colorido e de “lembranças ruins de outras administrações da cidade”, gesticula-se e tenta se justificar ao óbvio, a falta de investimento em infra-estrutura e política de base, o discurso do blá blá blá argumenta à situação.

Mas não “dá diagnostico” a patologia dos males podres da cidade nua. Conhece a origem do mau e acusa os correligionários de serem omissos contundentes em investimentos à precariedade.

Não demorou a resposta do síndico, economista: os culpados pelas enchentes, desaparecimentos de pessoas, infanticídios e alagamentos de vias baixas é culpa de São Paulo que não fez politicagem, nem conchavo com São Pedro, santo padroeiro dos munícipes, nem com os bandidos: os rios são dos povos, não são dos municípios, ou são. O governo daqui e de lá não repassam verba para os municípios, verbi gratia, teria dito o síndico.

O forte do administrador é o “discurso da competência”, no mundo não há ninguém tão capaz de “fazer” tão quanto o “faz”, cálculos em bilhões são esmiuçados em segundos aos ouvidos de ninguém – alheios ignorantes - contribuinte leigo passivo.

Recentemente em palco eleitoral, esbanjaram-se o verbo “fazer”, tal senso crítico era voraz às administrações anteriores, principalmente, a das ex-síndicas. As críticas tanto do bem quanto do mal eram para os rivais, inclusive ao cidadão mal educado, que joga lixo em qualquer lugar, e cospe, escarra indignidade nas calçadas quebradas e sujas, e abandonam as crianças cuja dor cuja cor não cabe na lixeira dos quintais.

Contudo, e agora José? A chuva estiou-se, com quem fica a chave da cidade, perdida? Então, ficaram os entulhos e as lamas. O barro secou as pragas, contudo, ainda, virão as maiores eleições: à presidência do planalto ou, a menor da hipótese, às câmaras e ao município. São Paulo não carece de promessas vãs nem de fiéis hipócritas discípulos de Jesus, mas exige eficiência dos santos reis. “E agora José?” A saúde à espera de são nunca, ‘inda não cansou de morrer.
In verdades - 24 mai 2005