quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Lua cheia - 87

Fotografia: Lua de fevereiro - do autor.

Oh lua cheia!
Oh metade de lua cheia!
Invernal noite fria
Dez e meia se vão
Horas de infortúnios

— ilusão.

Nem brisa sopra a esperança
Nem vento mais forte balança
Coração distante perfeito
Oh meu amor!
Sonho desfeito

In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Espanto! 90

Fotografia: in Olhares.com

Eu estava diante do espelho
Bonita e bem humorada
Meus lábios vermelhos
Bonitos e ardentes
Meu sorriso malicioso
(Meus dentes)

Eu havia renovado meu guarda-roupa
Pus-lhe roupas novas
Troquei-o de lugar
Fi-lo estratégico
Fi-lo ousado

Passou por mim um anjo torto
Que parou frente ao espelho
Mirou-se e piscou-se
Viu-se encantado e
Quebrou-se

Apagaram-se as luzes
Caíram meus cílios longos
Meu ruge se derreteu e
Manchou o meu rosto pálido
Fui estúpida e chorei sem pudor

Bateram-me à porta
Tantas vezes insistiram-me
Tive pena — nua de mim
Meus sapatos virados
Riram-me e riram-me — bonita!

Quando me tornou a luz
Minhas peças eram novas
Meus olhos azuis — felinos
Meus dentes — marfins
Meu ruge e baton por fim
In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

Fazer arte é muito fácil - 87

Fotografia: menino Enzo De Matteis, 6 - São Paulo-Br

Fazer arte é Simples
Basta pegar um lápis e riscar qualquer traçado
Não importa que seja ou não colorido
Não dê tal importância para o seu mau jeito
Faz sentido tudo
Risque para todos os lados numa folha de papel
Ou numa tela de pano trabalhada
De preferência, faça-se nervoso e habilíssimo
Mostre uma suposta desorganização doentia mental
E, se ainda alguém preferir rir sem notar o seu talento
Rascunho e ou apontamento
Faça charme!

Mostre-se displicente
Crie um hábito incomum
Masque tabaco de corda
Ou alguma goma-borracha açucarada
E cuspa ao chão as amarguras doces
Pisque seguidamente aos maus-olhados
Exponha-se ao cacoete mais conhecido genial
Ou então cite nomes de autores loucos universais
Mostre-os como estes lhe são indiferentes a tudo
Viu bem como não é difícil!
Fazer Arte é brincar de esconde-esconde
Em tempo de crianças e na tenra idade
São ingênuas as nossas dores!

Fazer Arte
É tornar a mirar-se ao espelho-mágico
Sem dor e sem medo e sem rugas
É criar no presente desconhecido
O que não fomos ao passado
E talvez não seremos no futuro
Fazer Arte é muito mais que isso
E sem talento ser mais político
Fazer Arte não cabe o meu conceito
Às vezes me enganam e tropeço
Caio e me levanto obeso
Vou assim redigindo e compreendendo
Vou assim indeferindo
In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Poesia 90 - in jardim tropical

Vale do Anhagabaú - fev 2008 - São Paulo-Br

Tu que dizes
Saber fazer poesia
Como é então o teu verso?
É livre é branco ou amarelo?
É romântico e tem as cores do arco-íris?
É claro como as cores dos teus olhos, menina?
Como é o teu verso?

O teu canto, como é?
Ah, já sei... O teu verso é livre!
Porque a liberdade é uma menina travessa e bonita
É um balão-de-junho verde-amarelo e São João
Não é assim o teu verso?

Se ainda não acertei
Não tem importância nenhuma
Os versos não têm importância nenhuma
Algumas pessoas dão importância para os versos
São almas doentes e tristes
E os versos são placebos tardios
Que mentem e não curam um câncer
Quando muito, agrupados em coletâneas antigas
Trazem traças e bolores para alérgicos. Eu?

O teu verso não é isso! É?
Acertei... Não acertei?
Diga-me então menina
Como é o teu verso
Que cores vêem os teus olhos
As tuas dores a tua esperança
E o teu sonho
Quem são os teus amores?

Uma vez quis saber de ti
Perguntei p’ro sol
À noite p’ra lua
E me disseram que tu eras
Assim bonita e tanta esperança
Um porvir sorrindo
Uma criança

In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Vias de fato - e entranhas

Viaduto do Chá - Shopping Ligth - São Paulo-SP

Oi, futuro!
Oi, futuro novo!

Assim serão já os próximos dias,
Amanhã e os depois de amanhãs.
Só depois de amanhã futuro incerto.
Não. Não será sempre depois assim!

Epa! Amanhã será hoje o dia dos inéditos!
Das cousas boas, mas à tarde, à noite muda,
As caras de amanhã virão enfeitadas. – Ok!

Hoje cedinho e amanhã, antes de saíres de casa,
Abra as janelas notícias e veja se já não há futuro,
Nas esquinas, nos fluxos dos homens e nas bancas.

Nas edículas, jornais, tablóides imediatos de revistas.
Propaganda nas vitrinas das livrarias com as edições,
D’ ouros do futuro e das glórias agonias dos homens.

Não sei. Não cri. Vi-te por acaso e te fotografei por nada.
Talvez por impulsos que vêm do cerne do sangue arterial,
Vias do mercado de nômades anônimos de mascates-nós.

Oi, futuro da manhã apressada de transeuntes corriqueiros!
Corredores de sóis e passageiros sós que não te conhecem.
Não vês! Daqui a pouco logo escurece as margens das vias,
Sombras do passado te tornarão entranhas incertas, o futuro!
In Verdades - fev 2008

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Lembranças - 88

Anhangabaú - Pça. da Bandeira - fev 2008 - S. Paulo-Br

Eu não sei do tempo que perdi
Quando de ti
Sobram-me carinhos
Naquele instante e tão vibrante momento
Quase morri e prazeres calaram minha boca
De contentamento fali de alma e de energia
Latente ficou no meu peito honrosa fortuna do amor

De certo, não o terei mais
Que fazer d’um homem esquecido
Amofinado dentre tantas lembranças vesperais
Noturnas e matinais?
Que fazer da competência enrouquecida?
Sei lá! Teus olhos negros
Nunca mais

O tempo incompreensivo
Do amor eterno que virou poesia
Nunca mais, ainda é rima clamorosa
Estúpida, mistério desigual
E, assim se foram
Ontem e hoje

Nada muda
Nada altera rotinas
Nada muda tão igual
Tão assim, somos suspeitos cegos da ironia
Da harmonia que não há: entre mentes
Haverá passageiros todo dia

In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

homenzinho-de-jesus

Fotografia in Olhares.com

Hei meninozinho!
Hei passarinho andante!
Mostra-te um assustado!
Quê tu trazes e novidades!
Boas! ou quem te assustou?
– Queixas somente, meu amigo.
- Muita queixa de tudo, te trago!

Mas por que passarinho tantas queixas?
Nem é meia-noite, o parque está repleto,
’Inda há muita luz nas avenidas e gentes,
Muita gente passa e nem te notara iguais!
Dois-mil-e-oito começou agora é fevereiro!
Veja os homens mulheres crianças brincam,
E cães muitos cães sujam os teus caminhos.

Estercos de animais têm em muitos parques.
São queixas à toa jogadas aos ares úmidos,
Das árvores entre caules grossos d’orientais.
Outras aves grandes correm e tropeçam-se.
Algumas mergulham em águas de escarpas,
Escuras de lodo de muitos jacarés pesados.
Veja outros sabiás em colônias d’ engordas!

Nas gangorras crianças equilibram o mundo,
Decorado em monumentos aço branco cinza,
De pedras esculpidas naturalmente o relógio,
Na contramão das pernas cansadas de suor.
Então passarinho belo, - homenzinho arisco,
Queixas-te de quê, quem são os teus grilos?

- Não sei não sei não sei! São queixas e sós.
Às vezes, eu penso que tudo está muito bem,
Árvores o vento a chuva o ano aparece agora.
Começou em festa e não muda terminar festa.

- Então, isso não é bom? – se fosse diferente?
- Se fosse diferente! eu não sei pensar o certo,
Mas não seria eu um menino leve. Teria nome,
Adjetivo próprio e nenhum de ti a m’ apreender
Por piedades – olhos-gato famintos.

Assim, às intenções do falso testemunho, não.
Não te ouvi. – ouviu bem, ó falso humanista!
- Nem és superior.

In Verdades - fev 2008

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Um dia dia me senti poeta

Pq. da Aclimação - São Paulo-Br.
Um dia me senti poeta
Solitário
Virei a tua esquina e
Disse aos meus ouvidos
Nunca mais teus olhos me
Virão surpreso
Tão desalentado
Nunca mais infeliz
Nem saudades
Eu terei de ti
Enquanto eu
Durar ao sol
In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Novembro - altamira

Fotografia de Amanda Com - in Olhares.com

Duas e meia da manhã
Alguém está sonhando
Alguém está sorrindo
Os cães latindo
Os grilos zunindo
Lá dentro da biologia
O sangue
A pressão arterial
Coração!

Duas e trinta e cinco da manhã
Alguém está amando
Aos gritos aos gemidos
O perfume da mulher
O cheiro da mulher
Sexo!

Duas e quarenta da manhã
Alguém está chorando
A manhã vai alta sem leme
Homens se despem
Mulheres se despem
A vida se despe assim
Original!

Duas e quarenta e três
Lá dentro o músculo cansa

Duas e quarenta e seis
Alguém está assustado
Os cães intimam uma pequena
A vida e a nossa vida passam

Duas e cinqüenta da manhã
Sugere a biologia noturna das horas
O perfume dos teus cabelos negros
O vermelho da tua boca manchada
O sorriso

O movimento quente e cansado
Dos teus lábios mornos
O desejo e o gozo da vida
O cheiro no teu corpo cala!

Três horas e sóis da manhã
Teus olhos cansados
Cumpra-se o sono
Vão-se as horas
Dormimos aos suspiros
À ressonância eterna
Dos que se dão

In Janelas abertas -1ª ed. nov 2007

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Retrato

Sisi fotografia - in Olhares.com
Quando me dei conta já havia passado pelo teu rosto inerte
A tua face branca era um templo em gesso suspenso e quieto
Carismática era uma flor emudecida
A minha dor foi se acostumando a tua dor
O teu abrigo agora era o meu abrigo
Eu sem ter te vivido
Pus-me a pensar

Esse tempo que persegue impiedoso
Tão capaz e mais infalível do que nunca
Algumas vezes as árvores são centenárias
Outras vezes orquídeas morrem sem a luz
Mas fica a história a dever ao tempo explicação
Caçamos a memória estampada no teu rosto
Da lógica decadente que restou do teu retrato frio

Volto a ti e és uma criança muda
Outrora nascente rumo ao mar sem dores
Ontem corrias entre as flores no jardim da vida
Eras sã e a tua carne uma alegria da terra
Hoje é o amanhã que não te espera
E este mormaço estúpido que te aquece a alma
Exala um odor de cera triste

Assim caminhando sem me dar conta
Percebo a candura nas parábolas
Que contavam das tuas aventuras ricas
Outras eram tristes e sem nexo
Se não toda tua existência fora um tédio
Perfeito o teu retrato sem lembranças
Um brilho fosco
In Janelas abertas -1ª ed. nov 2007

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Jornada-de-vento

Fotografia: Cristo Redentor in Olhares.com

Se você está aqui somente para me indagar, eu lhe afirmo: nem sei se vale a pena saber de qualquer aventura, por nada nesta vida eu me justifico. Poupe o seu tempo precioso, por que querer saber agora, justo agora em que anoitece e sem a luz do sol, eu não enxergo nada. Demais os porquês das coisas são todos alheios, somente você não sabe. Não sabe? Não sabia? Muito eu me lembro das poucas vozes que ouvia, orientavam os meus caminhos, insistiam-me nas trilhas em que as folhas caiam dos galhos e os ventos em nuvens de poeira sopravam-nas sem rumos além-estradas de enduros.

Eu a vi sair de casa, enquanto avistava-a sumia-se rumo a Oste, logo, deu-se o pôr-do-sol no horizonte, sombreou a noite os meus olhos, sem luar porque minguante, nada se via mais. Por isso, não me indague, não me queira saber do quê eu não sei. Mas se aqui veio para também ouvir as outras razões, seja de quem for não são as minhas visões que lhe darão guarida. Sente-se comigo, conjugue-se as minhas dúvidas, indaguemo-nos os dois a todo mundo, porque uma alma dessas que o vento traz e leva ante o tempo outono, de certo nos dirá por onde andamos nós.

- Não. Não me convenci de tuas palavras, não percebi de quem tu falavas, não ficou clara a idéia de que não somos os primeiros justos a tropeçar em bancos de areia nem a desfazer pegadas. Não somos nós somente os moribundos céticos. Se eu cheguei aqui e juntei-me a tua sombra, foi na esperança de não olvidar mais dos teus conselhos. Vim porque acreditei, vim porque acreditava na tua fé isenta que tens dos tempos idos e dos homens que passam. Ainda penso que entre mim e ti só há sintonia de corpo e alma, se é que tu acreditas em almas, porque de vez em quando ouço de ti algumas referências em seres abstratos, eu não sei se alma é um ser abstrato, mas sei que é da imaginação e de que muita gente age ou ainda se intera com esses pensamentos. - Tolices?

- Nessa linha de traspassadas idéias, eu até me aprofundaria mais. Veja-se do Amor e da Verdade e da Ética e da Beleza. Quê tu me dirias? Não me explique da Gramática normativa nem da Filosofia, tampouco da Semântica, greco-latino. Todas estas são alheias de livres arbítrios. Os mais crédulos acreditam que não são de livres arbítrios. Há uma explicação teimosa e muito bem arrazoada que sustenta a teoria do substantivo, a matéria-prima, a fartura dos nomes, a partir de o princípio da substância. Os homens, os mais antigos foram discípulos profetas avulsos de Platão e de Aristóteles, os contemporâneos ainda os são - todos nós?

- Entretanto, se tu quiseres terminar com essa conversa longa e enfadonha, que por mim ou por ti, até por nós, seguiria a noite adentro, sem timoneiro, então, logo me responda o quê não quis saber, e por dedução me subestimaste? - Eu vim até aqui porque quisera a tua companhia. As noites fortuitas são frias e a mim se escassa o sono nas noites quentes de verão. - Tu sabes muito bem qual porto me espera. Contudo, somamos nós aqui às nossas pedras.
In Verdades - 10 fev 2001

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Equilíbrio - Piracema


Fotografia de ABrito in Olhares.com

O mundo tem muito dessa causa nobre,
Então que não faltem íris nos olhos teu,
Para depurá-la a ti desiguais à natureza.

Estive pensando nas atitudes do mundo,
Não se dispensa olhos nem as lentes da
Capacidade das invenções dos homens.

Regra se modifica se altera os percursos,
Ao longo do novo leito desastroso tempo
Belo e feio espetáculo - infeliz cio patético.

Terra planeta é assim feito de águas de sal,
Homens de pedra de pau, nuvens aparência,
Etéreo-nada o mistério - deus-ser inacabado.

Não se deixe à explicação aparente. Terra é pura
E reage a açoites dos pés descalços dos chicotes,
Caudas-cipós do camaleão cliente do chão ardente.

D’ aonde vêm teus olhos tristes de águias de felino,
De o doce passarinho pegado às teias de tarântulas,
Salvar-te à extinção dos instintos, do instante verme?

Da natureza, pedaço de vida se come pães de peixes.
Veja-se dos igarapés artificiais, corredores do sacrifício,
Hipotético, espécies se movem em fluxos na contramão,

Pula e salta coreografia do salto mortal, piracema da morte.
Então aprendemos com as sensações do silêncio dos peixes.
Em teias de homens-aranha, salvemo-los a deuses a criação.

In Verdades - 21 set 2006

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Cavalinho-de-judeu

Fotografia de raul alexandre - in olhares.com
Maria das dores

Muita coisa em ti não me incomoda mais.
Uma dessas são os teus olhos de Maria,
Vivos insanos, impuros, vindos a toda sorte.

Bendito sejam tuas ladainhas teimosas, tu!
Maria é a dor, moedas, honrarias do mundo!
Às vezes horas dias entre manhãs e tardes,
Às noites, ora Maria fruto as penitências, dia.

Não me incomodas mais. - Estás aqui, às horas,
13h24 de verão, o relógio da esquina, ponteias.
Olhos de cão, vadios impunes te esperam, sorte.
Procuram-te a benção - tu és Maria das dores vã.

Os sóis ora brilham, ora se escondem em ti, por ti.
Clamam-te por desejos gratuitos. Passos flerta-te,
Em lágrimas suadas, tristes e Jacina - Maria, Maria!

In Verdades - 08 fev 2008

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Fragmento -2003

A moça do rádio anuncia:

Vinte e três horas e trinta e um minutos em São Paulo.
— Mentira!

“A mentira não está no discurso, mas nas coisas”.

Então as coisas são mentiras e o discurso pode ser meia-verdade,
Porque o discurso diz da mentira que são as coisas meia-verdade.
Mas por que meia-verdade o discurso e não uma verdade-inteira?

— Porque aí entraria o prolator da dita meia-verdade que também é
Uma mentira. — Efêmera mentira?

— De quê coisas tu falas, homem solidário, dom primitivo, inacabado?
— Falo da vida! - Do dom de perceber os instantes das horas restam.
— Então, tomo as tuas palavras! — o homem é uma mentira?
— É. A vida per si é uma mentira longa sem história, absoluta.

— Mentira longa absoluta! - como é assim?
— Eu sou uma mentira? — Absoluta sim?
— Sim. No Universo grande, flutuamos assim! - Mentiras.

— Somos bolhas d’água avulsas, azul.
— Sangue-éter do vulto da esperança!
— Mentiras absolutamente.

— Vale-se do que está escrito só enquanto se lê o manuscrito.
Depois tudo acaba!
In Verdades - 4 nov 2003

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Crônica do carnaval

Primeiro dia. Quem não se lembra da moça de pouco pudores que agitou um desses carnavais? Já vão longe os desenganos. Cinzas são amanhã. Carnavais seminus apadrinhadas, pagãos. Quantos suores rolaram e desejos e cinzas e cheiros e odores e sexo e cerveja e cachaça, purgarão travestidos de pierrôs, de colombinas, arlequim musa enfeitada de olhos foliões a bonecos figurões mais uma vez passarão na tua estrada.

A sedução da loira corrigida às curvas tortuosas das mulatas aos olhos enfeitados de turistas, vindo não sei de onde, fugido das pestes, das enchentes, da gripe aviário, da vaca louca, terremotos e de furacões. Verdade seja dita, já sinto saudades desse carnaval que sequer acabou tão tarde. Sentaste-te atento as alusões. Viste as águias ingênuas em alegorias de seres real da imaginação. Não fizeste o ritual nem dançaste o carnaval.

Romanos primitivos alegres investidos de boa-fé mundana colados à pele de suores se propagam aos templos profanos das periferias capitais aos gritos estéreis de multidão. Segundo dia diversifica-se as Saturnálias. Baco e Momo dividem as honrarias dos festejos em gritos e xingamentos do extremado gostos dos foliões.

Terceiro dia imagina-se o que se perdeu em restos de cinzas a hierarquia das carnes dos homens escravos, filósofos e tribunos. Restou a praça pública e os sambódromos in memoriam vivos - Era Cristã.

Censuras não há. Os templos ainda são cristãos, as festas mais animadas têm algumas restrições, guardam-se os desejos da abstenção das carnes antes da Quaresma, pois semana santa?
In Verdades - 24 fev 2006

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Vias de aclimação

Pq. da Aclimação - 2007 - São Paulo-SP
Fomos ao parque das árvores às sombras caminhar.
- Eu -tu -nós - o cachorro não foi. Ficou cansado dói.
- Não quis se sujar.

Caminhamos em passos largos e concentrados,
Embebidos em sais, ilhado continente d’ águas.
De margens cinzentas e odores de limo musgo,
Das carpas, dos mergulhões, dos gansos, patos,
Sabiás, duas garças de asas sujas e assustadas.
Verdade, eu não fui assim andar nem caminhar.
Fiquei aqui sentado ao sol ausente e sem rodeios.
Ouvia dos pássaros os cantos tristes de pesares e
Insinuantes quase doloridos, quase feridas árvores.
Tímidos grilos gritavam em enxaquecas distraídas.

Vocês iam a voltas e vinham a voltas nem as contavam!
Dores, quantas vezes dobrei longas esquinas às cegas.
Sem rumo à vista, sem tempo definido. A meta de correr.
Correr fugir dos arredores dos insumos, insanos terminal.

Vós vedes: - eu - tu - nós -, cansados e ofegantes.
Ganhastes ou perdestes massa? Ou as calorias frias,
Vós - Justifique-se!

À condição dos ares do tempo ligeiro não pára. Fiquei.
Aqui sentado à beira reles em agonia, ouvia histórias,
Findam do vento da manhã, das horas príncipes do dia.
Vaidosas, herdeiras das coisas vãs!

In Verdades - 03 fev 2008

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Pinte meus lábios

Pq. da Aclimação - 2007 - São Paulo-Br.
Vermelho
Meus cílios realce
Azul
Sobre meus olhos a sobrancelha afile
Cintilante

Pinte a minha face pálida
Rouge e blush
E faça de conta
Que eu vivi as ilusões
As emoções no teu sonho
In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Visões do paraíso -in luzes do verão

Hei você que acredita em Papai Noel anônimo! – Viu o disco-voador? – Vi. Sempre os vejo por aqui tais seres andando ou se arrastando em bolas de fogo. – Seres do céu! Povoam os ares os campos, os vales longos das montanhas do planeta terra. Em céus dos municípios procriam em bandos de gafanhotos – louva-a-deus! Aos céus dos Estados em nuvens escuras sem rivais cruzam todos os dias as avenidas, alamedas floridas do verão-janeiro de praias, ritmos, escolas de carnavais.

- Não me duvides! Porque mais concentrados voam no planalto do cerrado à espreita tais aberrações - genéticas? E sobre vôos rasantes cospem, pisam, nem dão bolas p’ra gente desmotivada por humilhações, descasos - escândalos da terra. Extraterrestres estigmatizaram gerações inteiras e agora, não mais se escondem, mostram-se cada vez mais a olhos de curiosos incrédulos, aterrizam-se, deslizam-se, esquiam-se em estações turísticas do sul e decolam-se de terrenos seguros de governantes soberbos.

- Ainda não entendi a tua pergunta: se de Papai Noel ou se de disco-voador? – Porque eu já os vi e acredito nos dois! Vivo em simulações hilariantes que às vezes dói de rir-se. Outras vezes criança, via Papai Noel prometer prosperidade para muita gente. – Eu nunca ganhei nadinha, pois o meu papai noel sempre trabalhava e depois morreu de cansado e triste. Fiquei sabendo mais tarde que era tudo mentirinha de adultos malvados, que casavam papai de pretensões, suores, e para se ocuparem mais brincavam de entreter criancinhas desamparadas, abandonadas, de preferência, doentias sem leito de hospitais.

- Então, se de disco-voador? Eu acredito sim. - Você não? - Se não vê é porque não quer ver nem ouvir falar dessas criaturas, que acha que são seres somente d’outro mundo. - A verdade é outra. - Sabe de uma coisa? Disco-voador existe por aí e por aqui. Extraterrestres rondam vilarejos do sertão e deixam marcas profundas e pegadas, e nas cidades, durante o dia e à noite roubam os automóveis, estupram e matam criancinhas. Logo amanhece e todos são bons e de maus costumes, coisas da terra!

Agora, se você pensa que sou cego simplesmente por querer ser cego, muito se enganou. A toda hora, vejo papai noel e disco-voador. Olhe! Olha lá um homenzinho bonzinho sob o banco da pracinha roto, barbudo e sujo em branco e preto, um cão vira-latas! Deve ser um papai noel que perdeu o trenó e o fio da história! Olha d’outro lado, vê aqueles outros? São ETs disfarçados e blindados em tela escura. Protegem-se de sóis - dos olhos da miséria.
In Verdades - 02 fev 2008

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Manchete - abre aspas - on line

Visão do dia - Pç. da Sé - fev São Paulo-Br.
Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Já são 200 as ossadas encontradas no local. Além disso, os peritos encontraram alças de caixão que pode ajudar a identificar de qual cemitério os restos mortais foram retirados irregularmente.

Caríssimo, leste a manchete notícia supra? Pois é! Fiquei pensando e me constrangia à medida que refletia sobre as ações pequenas e também grandes da atitude besta humana.

Se de um lado, essa mesquinhez atitude de aterrar resto humano em vala pública de dejetos é horrenda ao senso comum. Imagine só o grande bem que fazem esses autores ignóbeis ao tentar: - depurar a terra santa!

Pois, sabe-se que desde a Bíblia católica, o antigo testamento, que "vieste do pó ao pó retornarás", não é à toa. Se para mim essa versão é mera metáfora discursiva do bom cristão.

Então, vale a esperança à purgação do planeta, porque é sabido também que os ossos são uns concentrados de sais, cálcio, substâncias que sustentam nossos pés, ainda que estejamos no alto em avião.

Por tudo, meu caro e bom amigo, saudemos mais a essa torpe mazela dos homens pueris em atos covardes do escuro cérebro dos animais.

Agora, pense um pouco e não me dê razão nenhuma. Essa ironia manifesta da "minh’alma" é também a minha purgação às atitudes nossa ao homem feio de cada dia. Daí eu rio. Ha ha ha!

Abraço, do amigo simao
In Verdades - 21 fev 2006