“Lago Coca Cola”, tem este nome devido a cor escura da água. PA
A 220 km de Belém - Salinópolis, Pará. Banhado pelo Oceano Atlântico
Encontro das Águas - Rio Tapajós com Amazonas - SantarémPA
Botos no Rio Amazonas
Eu havia agendado uma consulta médica ao cardiologista, hoje, 11 março 2009, quarta-feira de verão abafado e de nuvens que do céu ameaça chuva em temporais, águas que enchem os bueiros da cidade, alagam as ruas e carros e pedestres bóiam, iguazinho peixes mortos na vazão poluída dos rios intoxicados de esgoto caseiros, e de ventos que correm rápidos e derrubam árvores e sonhos e levam casas para baixo, colchões e as esperanças para as nascentes de rios muito longe de ninguém. São as águas de março, alguém disse, fechando o verão.
Subi ao terceiro piso, dei-me com outros pacientes, quase todos mais velhos do que eu nas aparências, entre senhores e senhoras e atendentes, respondi à ficha do meu cadastro, pois sempre tem a primeira vez a um médico diferente. Não me percebo doente a qualquer mau que não seja a outro da rotina da prevenção. Dizem que os homens depois de qualquer idade procuram médicos, de criança, de rotina ou da velhice, alguns homens encontram os seus curadores e curam-se. Outros, dizem os familiares, se encontram com os anjos no céu de Deus bem mais cedo e se dormem em vigília de ninguém profundamente.
Vindo aqui à cura da medicina, qual foi o mau que eu poderia ter me encontrado, e se já não o soubesse por antecipação de todos os diagnósticos desse martírio, ‘via crucis’, até o último diagnóstico, pois esse é o fado a todos os caminheiros. Pois, enquanto resistir-se ao tempo, à parede o entretenimento em tela LCD, cura eu terei, se observar e seguir os programas, os mandamentos, a farmacopéia e as dietas dos homens modernos. Agora é assim que se escondem as dores, em ondas magnéticas avulsas: apreciando rostos, uns descontraídos e felizes. Outros menos descontraídos, ou a uma melhor opção a música barulhenta, risos, jogos e prazeres profissionais terceirizados e ou as notícias dos mercados de ontem, de hoje e de amanhã, pois, principalmente, essas são as causas dos males progressistas modernos do movimento dos enfermos, agora em vírus virtuais.
Vou à janela do terceiro andar, vejo os transeuntes lá embaixo, uns cegos sem bengalas obcecados à espreita atropelando os distraídos. Outros cegos com bengalas tropeçando uns. Pedintes, molestando outros, camelôs na calçada da Estação do Metrô Santa Cruz. Vejo os condutores de gente, muita gente e automóveis que vão e vêm, todos à rotina das mesmas palavras que eu teria de dizer a todos, todos os dias. Mas não fosse necessário, pois, outros homens amanhã já não estariam entre nós, passageiros teimosos da empreitada ilusão do viver?
As horas passam em vira-voltas agitadas. Ao centro médico, a espera é longa, as pessoas se olham como quem quisesse adivinhar os males de quem também se disfarça em dores ou lembranças de agonia. Uma perdida na outra. A minha vez chegará, a minha aparência resistirá à espera da vez. Vejo os 'slides' que mostram os modos de viver mais felizes com as receitas culinárias da tarde e doces ‘diets’. Os olhos quase sem conversas. Atentos! Vem uma chamada, deve ser por ordem de chegada ou deve ser por ordem da emergência: fulano de tal...! - Ainda não eu.
Sinto como quem adivinhasse que as pessoas já estão cedendo ao tempo. A juventude do juízo agora se arrasta cansada, cada rosto é meu espelho, cada par de olhos de lentes, cada pele, em todos os cabelos brancos, guarda o tempo da espera. O relógio não para. Os corações param. E sob o efeito de remédios, quem sabe, bate a esperança à eficiência do técnico de manutenção das vidas. Os homens caminham à idade da história perecível, vão-se a longe os argumentos, os pensamentos a justificarem-se à razão, vão-se todos às nuvens escuras, às águas contínuas, que começam a cair do céu.
Insinuo-me, levanto-me, vou ao bebedouro, sirvo-me ao 'toilet'. Entre outras necessidades mais preocupantes aos meus interesses. Sai o médico à porta do consultório, não deve ter mais de trinta, logo pensei, mas me chamou a atenção. Ouviu o meu coração, tomou a minha pressão arterial, e na simpatia da idade promissora, perguntou-me da minha história com os males do coração. Contei-lhe dos irmãos, ‘dois safenados’, falei-lhe da mamãe com um histórico cardíaco fulminante à causa mortis há oito anos. Assim, o gentil médico me prescreveu exames de praxe. Nada de importante a preocupar-se, me tanquilizou. Volte-me, com os exames, conclusos.
Pois é assim que anda a vida, ora a procurar médicos, ora do coração, ora da cabeça, ora das mãos, ora dos pés, muita gente já procura médico da alma, clínicos de imediatos, 'sub judice' de Deus ao enfarte. Algumas vidas param por qualquer outro motivo. A roda-viva vai e vem sem ter lembranças de ninguém. Quinta-feira, 12 de março de 2009, Assim que cheguei do trabalho, às 18 horas aproximadamente, o telefone tocou. Notícia de tristeza, disse-me uma cunhada d’outro lado da linha, ‘a Sandra morreu’. Melhor dizendo, foi encontrada morta em seu leito, já com a versão da polícia de que fora o óbito a mais de 24 horas. Ironicamente, pensei: - enquanto eu procurava um cardiologista para me receituar, à minha casa, de família, longe do meu quintal, falecera a Sandra. “'Causa Mortis': Miocardiopatia Isquêmica – insuficiência coronariana aguda”, diz o laudo do IML -, minha estimada segunda irmã, falecidas. Saudades!
A 220 km de Belém - Salinópolis, Pará. Banhado pelo Oceano Atlântico
Encontro das Águas - Rio Tapajós com Amazonas - SantarémPA
Botos no Rio Amazonas
– Encontros casuais -
Eu havia agendado uma consulta médica ao cardiologista, hoje, 11 março 2009, quarta-feira de verão abafado e de nuvens que do céu ameaça chuva em temporais, águas que enchem os bueiros da cidade, alagam as ruas e carros e pedestres bóiam, iguazinho peixes mortos na vazão poluída dos rios intoxicados de esgoto caseiros, e de ventos que correm rápidos e derrubam árvores e sonhos e levam casas para baixo, colchões e as esperanças para as nascentes de rios muito longe de ninguém. São as águas de março, alguém disse, fechando o verão.
Subi ao terceiro piso, dei-me com outros pacientes, quase todos mais velhos do que eu nas aparências, entre senhores e senhoras e atendentes, respondi à ficha do meu cadastro, pois sempre tem a primeira vez a um médico diferente. Não me percebo doente a qualquer mau que não seja a outro da rotina da prevenção. Dizem que os homens depois de qualquer idade procuram médicos, de criança, de rotina ou da velhice, alguns homens encontram os seus curadores e curam-se. Outros, dizem os familiares, se encontram com os anjos no céu de Deus bem mais cedo e se dormem em vigília de ninguém profundamente.
Vindo aqui à cura da medicina, qual foi o mau que eu poderia ter me encontrado, e se já não o soubesse por antecipação de todos os diagnósticos desse martírio, ‘via crucis’, até o último diagnóstico, pois esse é o fado a todos os caminheiros. Pois, enquanto resistir-se ao tempo, à parede o entretenimento em tela LCD, cura eu terei, se observar e seguir os programas, os mandamentos, a farmacopéia e as dietas dos homens modernos. Agora é assim que se escondem as dores, em ondas magnéticas avulsas: apreciando rostos, uns descontraídos e felizes. Outros menos descontraídos, ou a uma melhor opção a música barulhenta, risos, jogos e prazeres profissionais terceirizados e ou as notícias dos mercados de ontem, de hoje e de amanhã, pois, principalmente, essas são as causas dos males progressistas modernos do movimento dos enfermos, agora em vírus virtuais.
Vou à janela do terceiro andar, vejo os transeuntes lá embaixo, uns cegos sem bengalas obcecados à espreita atropelando os distraídos. Outros cegos com bengalas tropeçando uns. Pedintes, molestando outros, camelôs na calçada da Estação do Metrô Santa Cruz. Vejo os condutores de gente, muita gente e automóveis que vão e vêm, todos à rotina das mesmas palavras que eu teria de dizer a todos, todos os dias. Mas não fosse necessário, pois, outros homens amanhã já não estariam entre nós, passageiros teimosos da empreitada ilusão do viver?
As horas passam em vira-voltas agitadas. Ao centro médico, a espera é longa, as pessoas se olham como quem quisesse adivinhar os males de quem também se disfarça em dores ou lembranças de agonia. Uma perdida na outra. A minha vez chegará, a minha aparência resistirá à espera da vez. Vejo os 'slides' que mostram os modos de viver mais felizes com as receitas culinárias da tarde e doces ‘diets’. Os olhos quase sem conversas. Atentos! Vem uma chamada, deve ser por ordem de chegada ou deve ser por ordem da emergência: fulano de tal...! - Ainda não eu.
Sinto como quem adivinhasse que as pessoas já estão cedendo ao tempo. A juventude do juízo agora se arrasta cansada, cada rosto é meu espelho, cada par de olhos de lentes, cada pele, em todos os cabelos brancos, guarda o tempo da espera. O relógio não para. Os corações param. E sob o efeito de remédios, quem sabe, bate a esperança à eficiência do técnico de manutenção das vidas. Os homens caminham à idade da história perecível, vão-se a longe os argumentos, os pensamentos a justificarem-se à razão, vão-se todos às nuvens escuras, às águas contínuas, que começam a cair do céu.
Insinuo-me, levanto-me, vou ao bebedouro, sirvo-me ao 'toilet'. Entre outras necessidades mais preocupantes aos meus interesses. Sai o médico à porta do consultório, não deve ter mais de trinta, logo pensei, mas me chamou a atenção. Ouviu o meu coração, tomou a minha pressão arterial, e na simpatia da idade promissora, perguntou-me da minha história com os males do coração. Contei-lhe dos irmãos, ‘dois safenados’, falei-lhe da mamãe com um histórico cardíaco fulminante à causa mortis há oito anos. Assim, o gentil médico me prescreveu exames de praxe. Nada de importante a preocupar-se, me tanquilizou. Volte-me, com os exames, conclusos.
Pois é assim que anda a vida, ora a procurar médicos, ora do coração, ora da cabeça, ora das mãos, ora dos pés, muita gente já procura médico da alma, clínicos de imediatos, 'sub judice' de Deus ao enfarte. Algumas vidas param por qualquer outro motivo. A roda-viva vai e vem sem ter lembranças de ninguém. Quinta-feira, 12 de março de 2009, Assim que cheguei do trabalho, às 18 horas aproximadamente, o telefone tocou. Notícia de tristeza, disse-me uma cunhada d’outro lado da linha, ‘a Sandra morreu’. Melhor dizendo, foi encontrada morta em seu leito, já com a versão da polícia de que fora o óbito a mais de 24 horas. Ironicamente, pensei: - enquanto eu procurava um cardiologista para me receituar, à minha casa, de família, longe do meu quintal, falecera a Sandra. “'Causa Mortis': Miocardiopatia Isquêmica – insuficiência coronariana aguda”, diz o laudo do IML -, minha estimada segunda irmã, falecidas. Saudades!
6 comentários:
Meu caro irmão, além das belas palavras sobre tais realidades, as suas construções sintáticas sempre de muito bom gosto, os seus desafetos elegantes, aceite os meus testemunhos à sua dor, aos seu momentos de retiro e reflexões, aceite os meus sentimentos...
do amigo e adimirador,
Paulo
Caro Professor Simão:
Soube do ocorrido com vossa família e lamento profundamente.
A vida vez por outra vem com situações inesperadas.
Oferto meu pesar, porém avistando a foto do Enzo constato esperança de um futuro promissor, reconfortante e ameno.
Receba meu abraço fraterno e saudoso daquele velho quinto andar da rua Conde do Pinhal
Ricardo
Belas palavras! belo texto professor, me fez pensar.
Quanto a sua irmã sinto por você professor, como já lhe falei antes, temos que sentir nossas próprias dores.Com o tempo vira saudade, algo mais leve, bem mais leve. Um grande abraço
Caro Simão!
A vida é assim mesmo (feliz ou infelizmente, nascemos, vivemos, morremos mas temos que cuidar de nossa saúde para que vivamos um pouco mais!!!!!
Correta a sua atitude quanto a saúde, e corretíssima sua observação de nós públicos em um dia de tempestade paulistana!!!!!
Um forte abraço e continue postando suas observações!!!!!!
Um forte abraço
Danilo!
Boa noite! Tio li seus textos e me emocionei muito.Por isso nao posso deixar a opotunidade passar e te dizer que te amo muito!
bjs. alê.
Meu caro amigo professor Simão.
Obrigada pela visita ao "Arte cemiterial"
Esta é minha maneira de encarar a morte; Algo muito normal .E mais, se você for olhar novamente verá que em finados fiz uma postagem aos mortos.
Já perdi pessoas que amo, na verdade não perdi, apenas eles adormeceram, e estão em um lugar tão mágico que me basta fechar os olhos e acorda-los.
E, assim faço todos os dias antes de dormir. Fecho os olhos e lembro de um a um, parentes ,amigos, estou querendo dizer que, enquanto lembrar dos nossos mortos eles estaram vivos.
Basta acorda-los.
Desejo desde já uma Feliz Páscoa, com chocolates recheados de alegrias, amizades, saudades, e por fim um pouco de reflexão.
beijos querido amigo professor.
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