O condor andino é uma das maiores aves de rapina do mundo. A liberdade é parte de um programa nacional de reintrodução da espécie em seu habitat natural. (Foto: Martin Acosta/Reuters- globo.com -19 set 2008)
Três horas da manhã. Hoje é 13 de janeiro de 1988, memórias pródigas do que serei no futuro – futuro! Mas que futuro cabe aos homens que não dormem a não ser a ter fadiga, ainda que a liberdade seja um dom só de quem voa alto. Condor, Condores não dividam comigo a liberdade vigiada de estreitos laços que nos prendem às mãos dos senhores dono do céu, pois, também, mamãe se sentiu indisposta, com fortes dores nas costas. Pus-me a socorrê-la às presas, pronto-socorro às mães que sofrem e não dormem.
Sou a vigília da lua, somente da lua, comprometido com o mundo. Faz-se silêncio mudo! O galo canta distante, ainda, insiste em um canto salvo à madrugada, talvez, desafiando os giros do astro-mundo, eco nos vales entre rochedos das montanhas, eco à rouquidão dos meus e dos teus desalentos.
Papai diria que o canto da ave é novo e de muita esperança. Cá estou com meus anseios, sem objetivos, nem triste, nem alegre, nem esperançoso. Sim, apenas complacente, costurando enquanto especula os votos dos pensamentos: cada um de nós é uma esquina tortuosa e dura o tempo incerto de que eu terei de passar à noite, escuro é o céu do infinito.
Vou caminhando, assim, sem ter lugar nenhum p’ra chegar. O marasmo é a consciência de quem purga e purga e tem na esperança a salvação. A insônia é a senha para se regenerar dos atos que não se cometeu, porque dos assumidos nem São Pedro daria mais a ouvidos, e sendo assim, eu, cristão convencido e completo, cheio de boas ações, sou ateu convicto indiferente aos meus pecados, mas arrependido alheio a outra coisa estranha qualquer.
Mas nesse ciclo guardo um álibe: toda madrugada gero fortunas gratuitas aos moribundos. Por isso, estou tranqüilo e caminho sem o sono. Quanto às lágrimas, não são minhas. São das estrelas que navegam em mar aberto e sem destino. Logo, viro o horizonte, eis o arco da lua, da metade da lua, que me separa, às vezes, do teu destino, ingrata soberba luz.
Penso no amanhã, é hoje. Tenho a sensação da eterna morada, pois, tão perto é a subjetividade que me arrasta para janeiros vindouros sem ninguém saber dos meus porquês.
E agora de onde vem o choro da criança? — Vem do vizinho d’outro lado da rua! As crianças choram quando desconfortadas. Os homens, o homem, eu choro quando confortado e alimentado, mas perdido entre vãs maneiras de me sentir adulto.
Absurdo! Tudo é normal é absoluto, pois, absurdo é tudo, absolutamente. Cessou de chorar a criança. Ouço agora os grilos noturnos. Aos meus ouvidos, os grilos nas entranhas da alma, são gatos abandonados, impiedosamente miando, miando, miando, chorões irrequietos, mas indesejosos, pode ser igual a um-outro-ser triste e solitário-noturno, chorando e miando e mal-nutrido de esperanças. -Estranho animal que ronda as madrugadas.
Sou a vigília da lua, somente da lua, comprometido com o mundo. Faz-se silêncio mudo! O galo canta distante, ainda, insiste em um canto salvo à madrugada, talvez, desafiando os giros do astro-mundo, eco nos vales entre rochedos das montanhas, eco à rouquidão dos meus e dos teus desalentos.
Papai diria que o canto da ave é novo e de muita esperança. Cá estou com meus anseios, sem objetivos, nem triste, nem alegre, nem esperançoso. Sim, apenas complacente, costurando enquanto especula os votos dos pensamentos: cada um de nós é uma esquina tortuosa e dura o tempo incerto de que eu terei de passar à noite, escuro é o céu do infinito.
Vou caminhando, assim, sem ter lugar nenhum p’ra chegar. O marasmo é a consciência de quem purga e purga e tem na esperança a salvação. A insônia é a senha para se regenerar dos atos que não se cometeu, porque dos assumidos nem São Pedro daria mais a ouvidos, e sendo assim, eu, cristão convencido e completo, cheio de boas ações, sou ateu convicto indiferente aos meus pecados, mas arrependido alheio a outra coisa estranha qualquer.
Mas nesse ciclo guardo um álibe: toda madrugada gero fortunas gratuitas aos moribundos. Por isso, estou tranqüilo e caminho sem o sono. Quanto às lágrimas, não são minhas. São das estrelas que navegam em mar aberto e sem destino. Logo, viro o horizonte, eis o arco da lua, da metade da lua, que me separa, às vezes, do teu destino, ingrata soberba luz.
Penso no amanhã, é hoje. Tenho a sensação da eterna morada, pois, tão perto é a subjetividade que me arrasta para janeiros vindouros sem ninguém saber dos meus porquês.
E agora de onde vem o choro da criança? — Vem do vizinho d’outro lado da rua! As crianças choram quando desconfortadas. Os homens, o homem, eu choro quando confortado e alimentado, mas perdido entre vãs maneiras de me sentir adulto.
Absurdo! Tudo é normal é absoluto, pois, absurdo é tudo, absolutamente. Cessou de chorar a criança. Ouço agora os grilos noturnos. Aos meus ouvidos, os grilos nas entranhas da alma, são gatos abandonados, impiedosamente miando, miando, miando, chorões irrequietos, mas indesejosos, pode ser igual a um-outro-ser triste e solitário-noturno, chorando e miando e mal-nutrido de esperanças. -Estranho animal que ronda as madrugadas.
In Verdades - 13 jan 1988
4 comentários:
Caro Simão, me surpreende tanta imaginação, em liberdade nos sonhos, liberdade na vigília da lua, liberdade nas asas dos "condores prisioneiros" longe dos "donos do céu" e de um-outro-ser solitário-nortuno, estranho animal das longas madrugas... ainda vou ler a "sertanização".
um abraço,
Antonio Carlos
Caro Simão, passei pra ver os postes, também já tive situações semelhantes, não muito poética assim, um belo texto, o diário nortuno... legal!
considerações do anônimo amigo.
abraço, navegante.
Poi é, Simão! o que nos salva dessas maldições políticas são os nossos diários noturnos, mais uma vez, ficamos coma s nossas fantasias e...
gde. abraço, boas eleições.
da amigo de sempre.
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