sexta-feira, 28 de março de 2008

Quartetos e Mosaicos

Foto: uol.com.br - autor desconhecido
Quartetos e mosaicos

Tenho sentido tenho ouvido tenho visto tenho comido
Teus sabores amargos e salobras muito doces de fel
Trina os ventos silvos agudos e espalham as ondas a
Tua indecência pura de postar-te à aparência o caos

Sê de mim o teu desengano pois a sorte não muda o
Teu destino ignóbil às sombras das paredes desigual
Veste-te colorido de ramos verdes floridos vermelhos
Sem iguais não te descansas em tédio nem dormes a

Hora sagrada de viver tu sofres tu te matas à tua dor
Eu que passei por aqui de braços nus vi-te vibrar em
Em ressonância a odores do chão aos olhos ingratos
Do cão carente impiedoso pago em sal gosto de pão

Muita gente vive sem o pão dispensa cara das noites
Janta-se esquece-se do dia dorme enquanto durante
A noite esconde-se da Lua e vive-se sóis à novidade
De ser divulgador de sonhos, mas não quiseste sê-lo

Ler-se são os teus ais assim vive-te de contos que a
Ti contas para os outros dá a certeza dos receptivos
Enganos seja essa a vistosa aparência dos capuzes
Que a ti veste às manhãs das tardes noites sem luar

In Verdades - mar 2008

quarta-feira, 26 de março de 2008

Choveu num instante -90

Foto: G1 globo.com - Belo Horizonte - mar 2008

De onde vêm estas águas tantas
Estas nuvens tão carregadas
Escuras e aborrecidas
Porque não há mares por aqui tão perto
Nem os rios grandes da minha infância

Lembranças
Por aqui há rios pequeninos
E maiores são mais distantes
Ou são rotas estreitas onde
Navegam restos orgânicos de vidas
Rotas e esgoto poluído
Restos de gente
Assim tão triste e de repente
Por aqui não haveria de chover tanto
Ah, Belo Horizonte!

Pode ser que esta chuva
Sejam lágrimas saudosas
(dos teus olhos, menina!)
Que mandaste daí
Prêmio oportuno a minha angústia

Pode ser o teu castigo a minha desventura
Pode ser o fado-consciência
O teu olhar cismado
O vento que sopra
Frio!

As luzes mercúrio ou néon
Os hotéis têm mais estrelas
A lua grita em mares negros!
É cheia quando aparece
É negro o céu que me envaidece

Sinto frio e saudades
Não há preces por aqui
Cânticos são trovões distantes
E este hino a todo instante
Que não cansa!

Não pára
É muito o desencanto
O teu calor — Belo Horizonte
O meu engano!

In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

De tanto assim culpado - 87

Vale do Anhangabaú - fev 2008 -São Paulo-Br
De tanto assim culpado
De tanto amor julgado
Morre o homem
Alienado

Nasce o sol
Brota a flor

O campo seco
se transforma
Tudo é flor

Canto do céu
Onde não chega a dor

Gira-gira passatempo gigante
Entrete a criança desse espanto

Canta repete o encanto
Voz é tanta

Dor!

In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

Amanhece - 88

Rui Barbosa - Vale do Anhangabaú - S. Paulo-Br

Amanhece
São Paulo nem dormiu
Há vida no verão-outono
Faz hoje frio
Ronco de motores a diesel
E gasolina-álcool se dispersa
Coloridos transeuntes e modas
De diferentes cruzadas santas
Aqui do centro alto Piratininga
Bem de cima do Viaduto do Chá
Vale o céu cimo babilônico
Vale os sonhos das fortunas
Das sete e trinta da manhã
Dos mendigos sem pátrias e dos mestiços
E dos mulatos debruçados no parapeito do vale
Vale britadeiras e unhas de ferro
Ternos e bravata e muitos sorrisos e pressa
Vale das morenas — Olha a loira cobiçada!
Os passos apressados do boy-city
Vale da ruiva co-cidade
São Paulo vale outra missa
Nem Paris a mereceu
Corro os olhos atrás da loira
Cidade — morena negra ruiva loira sumiu

In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

sexta-feira, 21 de março de 2008

Quaresmeira -Impressões -Canto de ninguém

Foto:Quaresmeira -G1 globo.com - mar 08

I
Tornei-me célebre – incógnito!
Pus-me postado em Pinacoteca
Pública à distração dos curiosos
Anônimos passantes dias de sol

Biótipos diversos se davam a perfis
Significados de insinuantes desejos
Rabiscados frios a carvão-pastel de
Tisnados assanhados das erosões

Azuis sonhos dourados de mim!

Tornaram-se espetáculos visionários
Protótipos de visões malucos latentes
Insatisfeitos da vida corriam em silvos
À busca de imagens e de ninguém

Incertezas - deram-se às tardes à noite
Sábado da manhã de domingo das filas
Longas vias cruzadas de apreciadores
Agitados alienáveis valores da estação
II
Esfinges estátuas – notórias incomuns soldados
Romanos de altas conquistas de brutas batalhas
Chamam às atenções os instantes de forasteiros
De sítios de distantes fronteiras de impressões

Aqui todos são personagens honra de homens rudes
Que imitam homens rudes – mimese festiva das Eras
Esquecidas das investidas imprecisões outrora vitais

Sê tu – célebre sombra – tranqüila!

Dás guaridas a esses extemporâneos argumentos
Tanto não perca tal Elo da inventiva sedução salvo
Espontâneos momentos das glórias da remissão

Status nobre à eternidade nestas alas de alegorias
Máscaras coloridas hão de ter esperanças novas
Hão de ter segredos mais nobres resguardados

Ao vício de viver casto estampado a olhos teus indiferentes!

In verdades - mar 2007

domingo, 16 de março de 2008

Soneto insólito -13

Foto: Blogspot.com
Quem Conta um Conto-Betty B. Martins

Não sou nem pareço estranho ao teu olhar.
Sei que tu me conheces desde muito longe,
Exatamente assim como fomos às alegrias.

Sou o teu auto-retrato pendurado na parede,
Das salas de visita, estilo amarelado, à moda,
Amostra em moldura antiga de perfis do tempo.

Sei que continuas assim irretocável e perfeita,
Tua imagem igual comenta-se, à noite morna,
De lembranças do presente em templo história.
Tu de quem nem por razões ousas me duvidar.

Então, se ainda não houver estranhos desiguais,
Mútuos, seremos um futuro só de igual miragem,
Perfeito, exceto se o sol não estiver entre nuvens,
E a Lua lá no céu a mim e a ti pareça triste, nua.

In Verdades - mar 2008

sábado, 15 de março de 2008

Devaneios -90

Óleo de - Gallery Betty B. Martins

Quando você vinha aqui
Eu me lembro
Quase eu via amanhecer
Você vinha sempre à noite
Morna e não chovia

Você vinha aqui
Eu me lembro do banquinho da rua
Sentados como uns anjos cúmplices
Eu e tu víamos a lua

Ah! Como eu me lembro do barquinho
Doido não tinha leme nem razão
Sumia em correntezas sinuosas
Era um vulto branco e agitado

Entre dunas num alazão
Tu vinhas e sentavas e vias a lua
Meu coração!
Meu santo alheio

Quem diria corpus não
Venha ilusão
Mas o tempo passou
Ontem deu-se eclipse

Escureceu
Depois veio a crescente tímida
E a nova não nasceu
Hoje por que não sei chove

E se não for por tais motivos
Qual seja ingrata, prove!
Se for cansaço a minha infâmia
Ainda assim venha

A vida é uma semente
Melhor dizendo um passarinho alegre
E o vento esse agente do futuro
Uma criança brinca

Sem saudades

In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

quinta-feira, 13 de março de 2008

Odes de todo dia

Óleo - Árvore Virtual - Gallery Betty Martins
Mafra/Portugal

Se tu pensas que os meus hábitos, costumes, manias e minhas atitudes são apenas essas vezes que te vi passar! – Não. - Não são iguais todas as manhãs. Outras vezes vem de longe toda a dor. Outras vezes nem foi tu quem eu vi passar. Mas vi lembranças esquecidas tuas: é igual caminho o teu desatino. O mesmo mar ao teu porto mais seguro, o mesmo rio-menino ao trapiche tropical à fronteira do ganha pão. O mesmo auto de correr asfaltos em avenidas de comboios lotados de aflições.

Não. Não! Não a ti confesso mais nada, pois, não são todos os meus dias tão iguais. Hoje, fosse assim, porque calha ao tempo o teu destino, vi almas vivas passar rente aos meus caminhos. Desviei-me aqui, vinhas d’acolá, contei todos os teus passos, indiferentes me seguias.

Sejam essas as versões ocultas repetitivas das amostras das rimas das estradas longas, vias de pedras vêem-se empoeiradas de fuligem, marcas sujas dos teus pés no asfalto, mármore das civilizações modernas desconte. Vêem-se nessa densa maioria homens mulheres crianças, moribundos sujos de gatos de cães, pedintes capengando-se às janelas de espelhos de automóvel, muletas ridículas à bênção do pão suado de todo dia.

No ritmo das horas, marcando e preocupado com tempo, desci e subi as escadas, patamares rolantes em galerias, em tropeços a transeuntes apressados, homens mascarados lisos, vivas almas apressadas e cegas que não me conheciam passavam em trens aos gritos roucos, vão-se e vêm-se nas escadas dos destinos que não param. Subo ao céu, o teto é escuro, a Praça grande da Sé apertada a empurrões de braços nus e de pouca luz, está vazia.

In Verdades - março 2008

quarta-feira, 12 de março de 2008

Não me fale! - 87

Foto: G1 globo.com - Salve a Amazônia - mar 08
Não me fale
Dessa dor justo agora — eu não suporto!
Não me conte nada desse amor sublime
Outrora posto à prova ao fogo ardor
Suspeita esperança muito embora
Seja plácida a hora de um canto livre
Sem rancor — justo agora
Eu não suporto!

Não me atenha a teus desejos
Irresponsabilidades mais nobres
Do tempo e das dores nos ares
As árvores secam no outono
Trazem pro chão árido
Ninhos de aves doentis
Não me queiram mais infeliz!

Pois nada eu nunca fiz
Lar doce reino infeliz!
Não me conte da tua dor
Justo agora — eu não suporto!
Ver teus ais embalsamados
Ver teu leito difamado
Odores horrendos exalados
Multidão à margem desgraçada

Então infâmia blasfêmia injustiça
Martírio... Ó nobre dor!
De homens modernos e em vão
Vença a minha angústia
Egoísta e sem propósito
Estou covarde — justo agora
Eu não suporto!
In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

quinta-feira, 6 de março de 2008

Estiagem em Prece

Foto: In visões - Vale do Anhangabaú - SP - Brasil

Qual tempo esse tão igual de sóis ardentes de início ou fim de verão. Não é sabido que o tempo conta o tempo, as horas, os instantes e os meses de janeiro a dezembro solar. Não vês que tanta luz me cansa os olhos! Não vês que de tudo há marcação – não falte a nós a bonança à tarde. Tu, cantor das dores dos homens, não te cansas – eu suo, transpiro prantos imundos de inquietudes colaterais.

Se tu não te cansas e tens as sombras às águas frescas de regatos límpidos, não te cansa, pois, estes ares secos e poluídos. Então, Senhor, prometa-me os confortos dos rios dos céus que retarda a outros contentamentos, porque fulguram em cantos e versos de artista rimas ricas populares do vício natural das tempestades as águas de março fechando o verão.

Não sei se falta ao tempo a minha compreensão de filho da terra tropical, filho do planeta, filho da simbiose no elo racional que coubeste a mim à espécie. Não vês! Não teima à minha presunção, por que me viste em pó, em nada, me viste em fios de águas da gênese nascer e morrer na tarde sem trovão. Amém!

In Verdades - mar 2008

Manto do céu: - D'Astúrias

Fotografia: Lua - de fev 2008
Foi numa noite quente de verão, às horas duras, eu não dormia. Não sei se via escuro céu ou se via somente antros distantes dos céus mais antigos. O grito das águas vinha e batia e rompia nas areias de sal, penumbras dores. Teus olhos cansados na vigília longa das marés distanciavam-se das estrelas num tempo sem norte. Na canção das ondas da maresia e na brisa morna das dores e das lágrimas, sofrias do silêncio insólito do teu sono imperfeito.

Deu-se a madrugada, homens sem faces sem luzes, tedioso horizonte, do escuro palco ressonando vinha o canto da sereia, tristes melodias, músicas repetidas das marés e das maresias, às festas, risos nas areias não se ouvia, da imensidão do céu - misterioso manto! Estrela cadente sumia em nada sem dores, sem cores. Absurda visão tão perto dos teus olhos, sem distância.

Havia uma luz intensa - olhos do infinito. Holofote do céu brilhava tão próximo do dia e amanhecia o riso das crianças. Andei no corredor indaguei do teu irmão, Disse-me quem era alta a estrela Guia. Imaginei pudesse ser meus sonhos infantis de um tempo glorioso nas trevas esquecidas. Muita gente tem das noites mal dormidas insônias vazias e não há janelas de verão contente que lhes traga de volta o sono profundo.

Ouvia-se do relógio tic tac das paredes brancas do teu quarto, suspiros, inquietudes e tapas assustados fechavam-se em sangue cortantes insetos agoureiros noturnos. Não havia imagem santa a desvendar misterioso encanto, nem imaginava quais sonhos teus a conjugar com os meus infortúnios aos ritmos dos oceanos. Só à noite à espreita em parapeito de ouvidos da varanda do hotel ficaste.

E foram assim todas as horas, eu não dormia e os cânticos dos templos negros, sôbolo rio aos mitos lusitanos, clareava-se o dia. Menino de tão distante, fui a ti, vi o tempo à espera de ti, corrias, corrias, mas ainda te abracei.

In Verdades - as férias - 2006

domingo, 2 de março de 2008

In totum - homenagem aos amigos!

Fotografia: parque da Aclimação - 2007 - São Paulo-Br

Caro Simão, bom dia!
Como tu disseste; obrigado Senhor, por um dia ter nos posto em um local comum, para surgir essa amizade.
Grande abraço e um excelente domingo, juntamente com os seus.

Shitiro Honda – 02/03/08

Obrigado por sua amizade
Você conhece o relacionamento entre seus dois olhos?
Eles piscam juntos, eles se movem juntos, eles choram juntos,
eles vêem coisas juntos e eles dormem juntos.
Embora eles nunca vejam um ao outro...
A amizade deveria ser
assim?

Estamos na SEMANA MUNDIAL DO MELHOR AMIGO.
Quem é seu melhor amigo? Envie isto para todos os seus melhores
amigos. Mesmo para mim, se eu for um deles. Veja quantas você
consegue de volta.
Se você conseguir mais de 3, então você é realmente uma pessoa
cativante.

mensagem rec. e-mail - 02 fev 2008

sábado, 1 de março de 2008

Urubu-rei

Fotografia: In Portal da Amazônia - fev 2008
Preste muita atenção!
É moda dizer-se por adeus.
Não vem ao caso agora tais visões.
Há horas que guardas desse tempo imóvel,
Calado, reles mortais perenes à putrefação.
E não pára de buscar-te as intenções.

Não vês! O tempo nada muda de lugar,
Sempre aos teus olhos tão iguais parece,
Ou quando muito dos ares o conforto acaba.
Não a ti, ó caro imperador das estiagens longas!
Daqui do topo do céu o panorama livre é incomum.
Indiferentes os teus momentos da tua mente insana.

Guardas as novidades que vêm do chão e gritantes.
Só tu, bizarra criatura, não estranhas à toa a solidão.
Não ris, espreguiça-te-se ao sol, espera-te da fartura!
E clama-te às dores, e canta-te de todas as melodias!
Os quês doídos te perecem roucos e duram enquanto
Vento te sopra favoráveis correntes frescas da agonia.

Odores nos ares das carnes e do pão que vem da terra.
Mostra-te-me audaz soldado de oportunidades patéticas,
Pois, se eu não soubesse das tuas aventuras eu nem te
Duvidaria da serena paciência de teus olhos-olfato, não te
Renderia as aventuras sem o risco ao teu vil encantamento.

In Verdades - 25 fev 2006