sábado, 13 de dezembro de 2008

Dezembro - Águas e Manchetes do Natal

Basílica de São Pedro recebe árvore de Natal de 33 metros - foto: AFP
Foto: Baía Guajará - PA

Foto: Ibirapuera - São Paulo
Das dores do mundo quem me diz... Você!
- As duras aventuras vêm na fúria das águas,
- Vêm do céu, vêm dos mares, - vê teus olhos!

Sôbolo os rios em desalinhos, sôbolo as montanhas e
Desfolhadas deslizam em águas barrentas teus rivais.
Vale do planeta d’Amazônia do Solimões, Rio Negro,
Amazonas Tapajós verde da esperança, baía Guajará.

Do Capibaribe, do São Francisco bondoso do Paraná,
Do Guaíba, e do Vale do Itajaí vêm os gritos sufocados,
Indefesos, vale da morte das lágrimas dispersas iguais.

Vales do Planeta Prata, o Nilo, Mesopotâmia, Mississipi,
Delta do Ganges, o terror em Taj Mahal vem à discórdia,
Vêm dos homens as intrigas das eras tempo desiguais.

Pois, garanta-se de que o equilíbrio do Universo sempre
Fora e serão sempre os gritos épicos das tuas tragédias.

Uma vez me disseste que nasceste em céus estrelados,
A mesma hora, ao mesmo tempo decorrido azul sereno,
Estrelas-guias vão-se, vem-se o dia natalino e passa-se.

Não me diga também que outro algures semelhantes a ti,
Nesse exato instante, sinta-se tão cristão quanto ordeiro,
Preste-se a desfazer as dores indecentes do teu castigo.

Diga-me Senhor se faltou razão ao bom juízo, porque não
Bradei ao teu perdão, a minha angústia cega corrompida,
Temi à ignorância da expectativa dos tempos dos natais.

Hoje de tão perto e decorrente morte à véspera do Natal!

Sempre foste a razão do meu contentamento e sem final,
Oh Cristo, redentor - mentor das graças aos infiéis desse
Tempo tão triste -distante, vigora a ira das atitudes frias!

In: Verdade - dez 2008


domingo, 16 de novembro de 2008

Sempre se puder exclua-se dessa agonia.

foto: G1 globo.com - 14 novembro 2008
Ipanema ganha 'rio de esgoto' após chuvas.
Segundo Feema, língua negra vem da galeria de águas pluviais.
Banho deve ser evitado no trecho próximo ao canal do Jardim de Alah.
Do G1, no Rio

Sempre se puder exclua-se da agonia.
Caro amigo! Você se lembra da garota de Ipanema nos versos de Vinícius Moraes, Tom Jobim, João Gilberto e tantos outros poetas idealizadores da beleza e do sonho do mundo brasileirinho? Pois é... Agora também temos a Língua negra de Ipanema, marco das civilizações industrial, numa versão perversa, mas ideal aos dirigentes políticos e à consciência das populações irresponsáveis do Brasil... Pois, vou rogar uma praga para esse panorâmico esdrúxulo: tomara que essa ‘Língua negra’, pegajosa podre, fedorenta e sedenta, se torne cada vez mais nervosa e babando lama escura e cuspindo detritos do vestígio humano de animais pelas ventas, invada outras baias do Brasil e predomine-se e conviva-se bem com os restos sórdidos dos homens que restam ainda agora. Quem sabe assim a cidadania se explode em manifesto pró-Natureza e Deus salve o Planeta.

Visto desse modo, não haverá tempo futuro, pois, o tempo presente está gasto e traspassado, ficou caduco para as novas gerações, e as ondas que vinham bater nas areias brancas de Ipanema, trazidas pelos ventos dos oceanos distantes, chegam pois exaustadas. Então, cansadas de esperar as boas vindas, rebelam-se e tornam-se maremotos e vendavais, e fogo queima em água-vivas, doutrina a Natureza. Seja a bondade de Deus à prática do tempo o exercício da onipresença, pois, os caminhos dos rios não mais o levaria aos mares nem aos caminhos das florestas aos ares verdes da vida. O mundo se tornaria só, horrendo só, e escasso em extinção seria os coitadinhos dos animais in extremis via.

Lembra-se, meu amigo, da ‘princesinha do mar’ ? Que não me digam que se tornou ou se tornará bruxa-feia, a digna Copa Cabana dos menestréis da Bossa Nova ‘60, agora, da paura insuspeita dos imorais predadores? Da Lagoa Rodrigo de Freitas poça escura de detritos e lágrimas de inocentes? Talvez, melhor ainda seja, olhar pro cimo das colinas que restam verdes e correr aos olhos os horizontes das montanhas cariocas dos rios de janeiro. Olhar o Cristo Redentor e aceitar em um aperto de braços bem abertos o calor da Redenção, porque Jesus, à imagem semelhança filho do Senhor, tornou-se homem só para as causas cruéis dos inconseqüentes irmãos predadores, perdoá-los.

“Segundo Feema. Língua negra vem da galeria de águas pluviais. Banho deve ser evitado no trecho próximo ao canal do Jardim de Alah.”

‘Alah, meu bom Alah’! Temos mesmo de atravessar os desertos? Aonde há desertos aonde há caminhos menos impuros para se atravessar? Fujamos então para lá! Pois, daqui se aceitarmos as dores do Mar, não teremos remédio para socorrer nem as águas nem as areias nem as garotas árvores de Ipanema, ficaremos sem Copa, voltaremos, então, por fim à era da Cabana – Ocas dos Guaranis-tupis mais felizes.

abraço, simao

In: Verdades - 14 nov 2008

sábado, 15 de novembro de 2008

Dia de aniversário - 15 novembro

foto: www.quintaldaruaacre.blogspost.com
Mirando o céu - belas arvores.com.br

15 novembro
Eu tive um sonho e muita sorte.
Pois, vim ao mundo neste dia,
E tudo estava como fora antes,
Exposto e completo.

Tu eras a minha história,
A minha esperança fé,
A minha honradez sólida,
O meu retrato futuro de sol,
E pronto.

Não me faltaste à luz sob o teto.
Eu dormia protegido e presente.
À tua palavra, então, cresci feito,
A providência à estima vida.

Sou hoje os teus iguais semelhantes,
Herdeiro genético dos presentes idos,
Mas se de ontem me lembravas ainda,
Fui a Porcelana rara e quase perdida.

Vi-me in vitro delicada via em ti,
Postei o teu retrato e o meu vivo,
Pedaços de perfis e de jornadas
Dos tempos dos homens
Amanhecidos.
In: Verdades - 15 nov 2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Espelho dos Tempos

foto: www.sfondipertutti - Coniglieto si scalda
NA FLORESTA DO ALHEAMENTO

Sei que despertei e que ainda durmo. O meu corpo antigo, moído de eu viver diz-me que é muito cedo ainda... Sinto-me febril de longe. Peso-me, não sei porquê...

Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre o sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas interpenetram-se, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o que sonho.
(F.Pessoa)
foto: www.sfondipertutti - Cavallo al tramonto
foto: Ghepardo - www.sfondipertutti
Alheamento
Balcão das horas. Então, o fim,
O ventre nu, o som e a música,
Teus cabelos balançam e voam,
– Rendeste-te em mim.

Auto-me sugestivo em risos de
Mona Lisa, tu sempre tu-eu-fins.

Quem és tu...
D’onde tu vens...
De que mãos imorais,
Malditas, te livraste a tempo...

Aqui tu te danças – eu só te aprecio.
Tu bebes e comes extensos olhares,
Longas garrafas embevecidas azuis,
De perfumadas flores - eu -te sonho...

Nina dos prazeres e das aventuras,
Da sombra pueril do avesso tempo,
D’ teu e meu passado uno repetido,
Da dor anfitriã à sombra do acaso.
In: Verdades - out 2008

domingo, 2 de novembro de 2008

TERRA DO SOL - DO FOGO - DE NINGUÉM ?

Mapa indica a localização da Flora do Bom Futuro

poucas árvores de grande porte permanecem em pé dentro da unidade de conservação.

(Foto: ICMbio / Divulgação)

Ameaças impedem o combate aos incêndios na mata.

(foto: ICM / Divulgação)
G1 globo.com - 02/11/2008

Na Floresta Nacional de Bom Futuro, em Rondônia, as grandes árvores já quase não existem. Em uma das áreas protegidas mais problemáticas do Brasil, a ocupação ilegal, as queimadas e a retirada clandestina de madeira já consumiram pelo menos 25% do território, e levaram embora grande parte do potencial econômico que poderia ser explorado de forma sustentável.

O último relatório sobre o desmatamento da Amazônia divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indica que, apenas no mês de setembro, 11,9 quilômetros quadrados de mata foram degradadas na Bom Futuro.

Semana passada, o boletim de alerta do Prevfogo – órgão que monitora as queimadas dentro dos parques e reservas nacionais – indicava alerta vermelho na região, apontando que havia confirmação de incêndio na mata. Abaixo do alerta, uma informação deixava claro que a situação fugia do controle: “a unidade não possui estrutura e há invasões no interior da floresta nacional que oferecem risco de morte à equipe da UC [unidade de conservação]”.

Hoje, a floresta conta com quatro servidores, que trabalham em um escritório em Rondônia, para cuidar de uma área de 2,8 mil quilômetros quadrados – área equivalente a duas vezes o município do Rio de Janeiro. No interior da área protegida, vivem pelo menos 1.500 pessoas, além de dezenas de milhares de cabeças de gado. Como a ocupação é ilegal, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), responsável pela manutenção do local, não consegue obter números precisos.

Segundo a analista ambiental Cristine Suemasu, umas das pessoas responsáveis pela floresta, a equipe consegue visitar o local apenas duas ou três vezes por mês. “Na última vez em que fui para lá, fomos com um carro descaracterizado, para não termos problemas”, relata.
Não bastassem as queimadas e a ocupação irregular, a floresta, criada em 1988, ainda tem outro problema: cerca de 350 km² de sua área estão sobrepostos à terra indígena de Karitiana. De acordo com Suemasu, o que poderia ser motivo de conflitos acaba se transformando em solução, no caso da Bom Futuro. “Para a gente, é uma forma de resguardar essa área. Os locais mais protegidos são os vizinhos às terras indígenas. Invasores têm receio de entrar no local”, revela.
Saídas complicadas
Acabar com os problemas da Bom Futuro não é tarefa das mais simples. Dentro da área que deveria ser protegida já há duas vilas, escolas, igreja e até um posto de gasolina. Uma linha de ônibus, ligando a cidade de Buritis a Porto Velho, também já transita nas estradas abertas irregularmente na floresta, segundo a analista ambiental.

Uma das formas encontradas pelo Ministério do Meio Ambiente para proteger florestas nacionais é realizar uma licitação e concedê-las para a exploração madeireira por meio de manejo sustentável. Na Bom Futuro, essa não é uma boa alternativa, já que as árvores mais valiosas já foram quase todas cortadas.

No início de outubro, o Ibama anunciou que faria uma operação na região, instalando portarias de acesso nos quatro principais acessos do local, e monitorando o fluxo de entrada e saída de moradores e mercadorias por meio de um banco de dados conectado à internet. Prevista para o final de outubro, a operação ainda não aconteceu.
Enquanto a situação permanece sem controle, os quatro servidores do ICMBio responsáveis pela área ficam de mãos atadas. “Hoje, estamos elaborando uma forma de fazer o plano de manejo. Trabalhamos mais no planejamento, mas não conseguimos colocar muita coisa em prática”, lamenta Suemasu.
in totum -02/11/2008

domingo, 26 de outubro de 2008

Acalanto do improviso

Blogg do Planeta O meio ambiente que você faz
As belas imagen da Mata Atlântica - por Luciana Vicária
G1 globo.com 23/10/2008


Eu não tenho escrito nada de novo.
A mim, falta qualquer outro assunto.

Temas me vêm aos olhos a cada instante,
Desses dias mais secos, mas eu não os sinto,
Assim, sou mais aflito e indelicado.

Tu que passas por mim e segues o teu caminho,
Comigo te asseguras de que nada sei mais de ti.

Por que tirei o dia para passear, vaguear ao relento,
Das horas sem instantes, sem propostas nenhuma,
A não ter um lugar, para a ti chegar.

Sou um prato da carne fresca in bianco do teu vício,
Sou o teu cheiro pulverizador da arte questionadora,
Do veneno espalhado, detrito à sombra da evolução.

Sou das realidades o teu destino só os perfumados,
Futuros enfadonhos dos dizeres vagos de noturnos,
Poente em instância avulsa dos homens sem rivais.

Mas sei que de mim tiraste o sono e da inércia o meu
Propósito de cumprir a magia andante desse encanto,
Alheamento das folhas que caem nas tardes quentes,

Segue os meus olhos víbora serpente ao rastro hino,
Passos demente do outono vento – mas eu sei agora,
Sou instante também imortal.
In: verdades - out 2008

domingo, 12 de outubro de 2008

Crônica de ontem, de hoje e de amanhã!

imagem: uol.com.br
A14 - Folha de S. Paulo - 26 set 2004
“É fundamental para a Democracia que o PT saia enfraquecido”

Così così, da presunção profética do filósofo José Arthur Giannotti: — o poder crescente do PT precisa ser barrado e/ou subdividido para não “contaminar” a democracia. Mais um mandato de Marta na Prefeitura de São Paulo e, a cidade cairia num retrocesso histórico sem precedentes de tenebrosas primaveras sem flores. Entenda-se: o Brasil, de modo geral, não avançou nesse governo petista e, jamais avançaria, enquanto o poder estiver nas mãos de um partido único, no caso, o PT, “monopolizado”. Seria mesmo um partido único o PT, nesse estágio de relações com tantos partidos satélites, ora aprovando medidas ora emperrando decisões ora por interesses oligárquicos blefando as esperanças do cidadão, isso não faz parte do jogo democrático?

Entendamos, então, o filósofo: é fundamental para a Democracia que o PT saia enfraquecido (nas urnas municipais), quebrar esse quadro de poder vermelho pueril do PT, mais do que isso, a cidade de São Paulo­, condição sine qua non teria de ser governada pelo PSDB-PFL, por um governo-modelo fidelíssimo ao do FHC “moderno”, até porque o filósofo é amigo, a mais de 50 anos, de Fernando Henrique Cardoso e, de acordo com seus pensamentos, o rumo certo da metrópole e do Brasil, estariam fadados ao sucesso com a vitória do candidato José Serra a Prefeitura da capital, que faria antes uma pós-graduação com o professor FHC em “estratégica política moderna”, para administrar o grande município com sucesso, a maior cidade do país, em pouco espaço de tempo e, estariam resolvidos todos os problemas comuns ou sui generis. Claro! O tempo suficiente para que Serra saísse mais bem preparado para ser presidente já nas próximas eleições ao Planalto. Fica claro também que o PFL, filho ancestral da oligarquia tupiniquim, teria o seu quinhão garantido e “zipado” do estressado trabalhador brasileiro.

A crueldade imposta pelo discurso do pensador só não é mais daninha, porque é da cultura do brasileiro de formação mediana “achar” que a experiência, principalmente, de palpiteiros profissionais e de políticos pára-quedistas, beatificados pela mídia que apareceram nessa República, venda a alma da mãe, para conseguir o poder e manter seus interesses escusos traga quaisquer melhorias para o bem social comum da nação.

Ainda bem que muita gente “acha” assim. O Sr. Giannotti, 73, é amigo de FHC há 50 anos, se juntarmos com a idade do ex-presidente, lá se vai a metade da juventude republicana do Brasil e ainda, se contarmos com seus correligionários de antigamente honoris dominis, restauraríamos a tempo a SESMARIA, agora, muito mais burocratizada e dependente de alheios gados feudais dos mesmos poucos “coronéis”, então, maiores de 73 anos — vestígios genéticos ainda dos séculos do passado povo.

Diz-se do filósofo ser moderno e atuante, eu nunca li uma linha do senhor J. A. Giannotti nos jornais do dia a dia, mais vezes. Tão relevante deve ser o seu discurso acadêmico e conservador entre seus pares intelectuais, de professor para professor, nunca para gente do povo do Brasil.

73 anos de história social no Brasil e a Democracia que o filósofo defende está obsoleta e inoperante para o século XXI. Uma Democracia ao molde de Atenas draconiana, portanto, não serve para os brasileiros, haja vista a abolição de 1888. Visto que, ainda, grande parcela de miseráveis, analfabetos e semi-analfabetos funcionais em grande número seja superior a de Atenas de Dracon, mas ainda, à mercê de demagogos convictos do chamado neoliberalismo “moderno” cujo filósofo apregoa não participarem da riqueza absoluta dos velhos “senhores tribais do Brasil”.

No artigo do filósofo, não li sequer uma linha pró-cidadania, antes sobre a educação da maioria dos brasileiros, talvez, para os seus princípios e conceitos filosóficos a educação não sirva de base para nada ou, então, seja comprometedora e, que venha ainda ameaçar riquezas tão consolidadas e de poucas gerações privilegiadas deste rincão continental.

O problema maior dos coronéis à brasileira é a ala do PT que busca mudanças interessantes e dá asas ao povo à cidadania e, a outras siglas que tragam propostas e soluções mais populares, ou seja, qualquer outra, por que, então, que seja PSDB de seu grande amigo e de seus reacionários, latifundiários Brutus. Vale, por isso, o voto declarado do pensador brasileiro pró-Serra. — Eta país que não esquece seu vínculo Barroco e, ainda engatinha no pré-modernismo da “republiqueta” de Lima Barreto, BRUZUNGANDESES convictos e seculares!
In verdades - set 2004

domingo, 5 de outubro de 2008

PATER NOSTRO QUI ES IN CAELIS ...!

foto: globo.com - G1 - 30/09/2008
Nesta terra de Deus, tudo pode ser bom ou mal, imagina-se só o perfil de quem o faz julgar: Maravilha! audácia, arrojamento, tecnologia, sensibilidade e arte, às vezes, andam com os mesmos pés. A Viabilidade, vias de fato, somente os idealizadores provarão ser, pois, engenharia sem arte não é arquitetura, senão arquitetura sem engenharia nada mais é do que fantasia. Parabéns, vale sempre renovar! -simao
Sê tu Seja ele
Sejamos nós
Sede vós
Sejam eles


Hoje simao veio à igreja a campus,
Não feito um irmão de um ninguém,
Nem tanto santo nem tanto pecador,
Nem fez oração, diz-se à Anglicana.

Veio e viu as mobílias da sala-amplo salão.
Todas de madeira escura dura de lei trabalhada.
Viu vitrais e portais importados da Roma católica,
Imagens de barro ou porcelana não as viu cansadas.

Disse de um Altar, sob um grande vitral coloridos e flores,
De perfis de Cristo rodeados de querubins doces, angelical.
Quatro vasos grandes de flores pequeninas brancas, lírios leite.

Cale-se um confessionário, um piano à esquerda dava um tom de
Música gospel, um homem de barba grisalha cantava e uma moça
De poucos perfis, pequena, escondia-se, pois, em tons dueto baixo.

Ah, disse haver uma águia trabalhada em bronze, talvez, num pedestal,
Asas abertas, arrogância dos poderios dos homens que se representam.
Disse também do símbolo da sorte na homilia da benevolência era cristã.

O padre juntou-se a um pedestal de mármore feito uma pia de lavagem em
Água morna – disse: presente oriundo da Irlanda homenagem a cento tantos
Anos de existência no Brasil - chamou a presença de alguns pais e padrinhos
As crianças, outros eram adultos com filhos ainda pagãos recebiam o legado.

Cristão, cristãos – senhor Jesus, conserva teus filhos, homens de Deus Pater!

Fotografias, flashes, câmeras e celulares, e uma tela no alto orientava os filhos,
Novos cristãos, os convidados a seguir o caminho do shopping, ele também foi,
Seguiu os abençoados, deu-se às mesas cobertas de orações e tantas versões,

Palavras do Senhor, mas ele nunca me disse que Jesus escrevera cos’ alguma.

Ou sentira tanta dor a custa irrisória do amor à venda no mercado a ver-o-peso.
Viu-se depois no jardim cercado de passarinhos, bem-te-vis cantavam e sabiás,
Na grama verde sob a copa d’ árvore grande, catavam grão a grão a esperança.
In verdades - outubro 2008

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Da sertanização, imagina-se -quê?

Destinos Jalapão
O deserto brasileiro

Imagine um lugar seco, muita areia, grandes dunas, sem vegetação e poucos animais vivendo neste ambiente tão inóspito. Água restrita, somente aquela que cai com o orvalho da noite. A palavra deserto provavelmente conota está visão.
A região do Jalapão, no Tocantins, é chamada de deserto do Jalapão, mas se você for para lá pensando em conhecer um deserto com as imagens descritas no texto é melhor mudar a sua passagem para o Saara. A região é formada por uma densa vegetação de cerrado baixo, a água flui exageradamente formando rios, brejos e lagoas, onde muitas espécies de animais encontram alimento em abundância. É possível encontrar espécies típicas do cerrado como o tamanduá-bandeira, veado-campeiro, capivara, ema e a onça-pintada. Casais de araras, tucanos e muitas outras aves ajudam a compor o cenário. Assim é o deserto do Jalapão.



Bufogranulosus

Globo on line, 23/5/2005
“A afirmação de Fernando Henrique Cardoso, de que a “sertanização por que passa Brasília pode atingir a democracia”“.
FHC parece que ficou doido, deve ser a senilidade evidente. Existem quintais onde há galinhas velhas que depois de cansadas de guerra, longas lutas perdidas, e de terem procriados ovos mesquinhos que alimentaram lagartos do mal e cobras venenosas, ainda se insinuam para galos velhos e duros de quintais vizinhos. Sai pra lá cascudas das fertilidades estéreis! Assim é a prática do longo tempo da democracia brasileira e mais recentemente faz pouco mais dez anos.

Do 8° encontro do PSDB-SP, FHC saiu cacarejando: o governo Lula parece “peru bêbado no carnaval”, Genuíno diz que “é inveja” do velho galo, ancião teimoso, muita gente também pensou assim. Falou também da “sertanização” de Brasília, nessa, ele deve ter razão —, Brasília fica no planalto central, isolada no interior do continente, longe do litoral, faz sentido um dia, virar sertão, profecia do beato conselheiro – “O sertão vai virar mar / Dá no coração / O medo que algum dia / O mar também vire sertão” - nos versos e música de Sá-Guarabira.

“O País -diz o ex-presidente FHC - está sem rumo”. Entretanto, fez oito anos de, ou melhor, ficou presidente do Brasil, antes ministro oriundo da demagogia. Fez confrarias com países europeus, mereceu títulos honoris causa a dar com pau, de monte, agraciado em suas viagens, somente ao exterior, muito caras ao contribuinte, vendendo estômagos vazios de brasileiros “vagabundos”. Por fim, ainda bem, os vinhos argentinos e chilenos –malbec- aumentaram a demanda e prevaleceram e invadiram as prateleiras de supermercados paulistanos a buon mercato.

O poliglota nacional, sociólogo, professor, conferencista, esbanjava competência, em nome da modernidade vesga americana e européia, vendia de tudo, que lhe desse a telha de seus cabelos brancos, vontade absoluta, bem baratinhos. Haja patrimônio público a depilar! Conseguiu até a aumentar a mão de obra barata no país, porque muitos cidadãos perderam o emprego e buscaram a informalidade, outros a marginalidade. Justificativa-se a sobrevivência. O saldo da política do governo de FHC é muito mais que isso:

Na saúde e educação e segurança, sabe-se que não há insatisfação popular, nunca houve abandono. No funcionalismo, que maravilha ficou o Estado organizado, dívida pública, corrupção nas gavetas, inflação não havia em mãos partidárias, nem dinheiro no bolso do cidadão, justiça. INSS, direitos adquiridos, nossa mãe do céu, quanta melhoria fez-se no jalapão sem camisa às havaianas desgastadas!

Note-se em vésperas adiantadas de eleição ao sertão visionário concebível, vale de tudo que possa angariar votos e fundos para se afirmarem às disputas eleitorais partidárias de quintais. PSDB comanda o arrastão, PTB, PDT, PMDB, PFL do novato DEM e do mais ordinário PP dão sinais da secura no sertão, mas preferem assim os novíssimos coronéis a distanciarem-se dos pts à revolução dos animais.

Competência e retórica são irmãs matreiras, não faltam nos discursos institucionalizados. Percebe-se que o transporte, a educação, a saúde, nunca estiveram tão bem nem se ouve falar de morte à míngua em frente dos hospitais públicos, precários cidadãos. Vale dizer, trindade atuante, a profana hipocrisia medieval caminha-lesma a fazer muralha aos bons ventos da Democracia soprados no Jalapão. Está na hora de FHC deitar-se ou curtir seus dotes avançados calado, recente fortuna emergente da sorte.
In Verdade - jun 2005

Diário noturno -88


O condor andino é uma das maiores aves de rapina do mundo. A liberdade é parte de um programa nacional de reintrodução da espécie em seu habitat natural. (Foto: Martin Acosta/Reuters- globo.com -19 set 2008)

Três horas da manhã. Hoje é 13 de janeiro de 1988, memórias pródigas do que serei no futuro – futuro! Mas que futuro cabe aos homens que não dormem a não ser a ter fadiga, ainda que a liberdade seja um dom só de quem voa alto. Condor, Condores não dividam comigo a liberdade vigiada de estreitos laços que nos prendem às mãos dos senhores dono do céu, pois, também, mamãe se sentiu indisposta, com fortes dores nas costas. Pus-me a socorrê-la às presas, pronto-socorro às mães que sofrem e não dormem.

Sou a vigília da lua, somente da lua, comprometido com o mundo. Faz-se silêncio mudo! O galo canta distante, ainda, insiste em um canto salvo à madrugada, talvez, desafiando os giros do astro-mundo, eco nos vales entre rochedos das montanhas, eco à rouquidão dos meus e dos teus desalentos.

Papai diria que o canto da ave é novo e de muita esperança. Cá estou com meus anseios, sem objetivos, nem triste, nem alegre, nem esperançoso. Sim, apenas complacente, costurando enquanto especula os votos dos pensamentos: cada um de nós é uma esquina tortuosa e dura o tempo incerto de que eu terei de passar à noite, escuro é o céu do infinito.

Vou caminhando, assim, sem ter lugar nenhum p’ra chegar. O marasmo é a consciência de quem purga e purga e tem na esperança a salvação. A insônia é a senha para se regenerar dos atos que não se cometeu, porque dos assumidos nem São Pedro daria mais a ouvidos, e sendo assim, eu, cristão convencido e completo, cheio de boas ações, sou ateu convicto indiferente aos meus pecados, mas arrependido alheio a outra coisa estranha qualquer.

Mas nesse ciclo guardo um álibe: toda madrugada gero fortunas gratuitas aos moribundos. Por isso, estou tranqüilo e caminho sem o sono. Quanto às lágrimas, não são minhas. São das estrelas que navegam em mar aberto e sem destino. Logo, viro o horizonte, eis o arco da lua, da metade da lua, que me separa, às vezes, do teu destino, ingrata soberba luz.

Penso no amanhã, é hoje. Tenho a sensação da eterna morada, pois, tão perto é a subjetividade que me arrasta para janeiros vindouros sem ninguém saber dos meus porquês.

E agora de onde vem o choro da criança? — Vem do vizinho d’outro lado da rua! As crianças choram quando desconfortadas. Os homens, o homem, eu choro quando confortado e alimentado, mas perdido entre vãs maneiras de me sentir adulto.

Absurdo! Tudo é normal é absoluto, pois, absurdo é tudo, absolutamente. Cessou de chorar a criança. Ouço agora os grilos noturnos. Aos meus ouvidos, os grilos nas entranhas da alma, são gatos abandonados, impiedosamente miando, miando, miando, chorões irrequietos, mas indesejosos, pode ser igual a um-outro-ser triste e solitário-noturno, chorando e miando e mal-nutrido de esperanças. -Estranho animal que ronda as madrugadas.
In Verdades - 13 jan 1988

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Quarteirões -bairros e quintais!

globo.com 15/09/2008
nova espécie -Martialis heureka- vovó das formigas- descobrta na Amazônia

Quarteirões - bairros e quintais!

Ainda bem que a cidade não carece mais de demagogos, para seguir o predestinado progresso. Às vezes, São Paulo se aborrece e se agita. É o cotidiano violento: assalto à mão armada, homicídios, rebeliões nos presídios, abandonadas crianças, congestionamento nas filas das repartições públicas e de bancos famigerados, quilômetros de engarrafamento nas ruas, muito trânsito de autos e gente, buracos nas vias públicas, poluição generalizada, o sol ardente e tantos outros álcoois nas ruas inconseqüentes.

Os paulistanos são submetidos todos os dias a desordenado progresso e para desconsiderar mais ainda as vidas, a chuva escassa, abundante o sol da seca estação. São Pedro teve lá suas desavenças com São Paulo, todo bom cristão sabe disso. O apóstolo Paulo foi por tudo sábio, talvez, cobriu a ineficiência dos administradores do chão pecador, e a deixou a seus co-cidadãos a dor mais cristã.

Nessa temporada de aviões sem pistas, deu-se o caos, bastou chover algumas horas para a cidade mostrar as provas do descaso e do apagão do dinheiro do contribuinte e se não bastasse a educação, o transporte e a saúde pública serem exemplos de horrendo babel. Os córregos, os bueiros, as favelas, os grandes esgotos-rios correm e deságuam os vestígios nas marés ameaçadas, em ritmo de tanta gente, mostram-nos as caras em agonia.

Logo aparece o político bom, traiçoeiro homem, velhaco, e funcionários medíocres da esperança do povo, a discutir “a competência” da desilusão. O governo médico deita-se sobre um croqui de gráficos aparente colorido e de “lembranças ruins de outras administrações da cidade”, gesticula-se e tenta se justificar ao óbvio, a falta de investimento em infra-estrutura e política de base, o discurso do blá blá blá argumenta à situação.

Mas não “dá diagnostico” a patologia dos males podres da cidade nua. Conhece a origem do mau e acusa os correligionários de serem omissos contundentes em investimentos à precariedade.

Não demorou a resposta do síndico, economista: os culpados pelas enchentes, desaparecimentos de pessoas, infanticídios e alagamentos de vias baixas é culpa de São Paulo que não fez politicagem, nem conchavo com São Pedro, santo padroeiro dos munícipes, nem com os bandidos: os rios são dos povos, não são dos municípios, ou são. O governo daqui e de lá não repassam verba para os municípios, verbi gratia, teria dito o síndico.

O forte do administrador é o “discurso da competência”, no mundo não há ninguém tão capaz de “fazer” tão quanto o “faz”, cálculos em bilhões são esmiuçados em segundos aos ouvidos de ninguém – alheios ignorantes - contribuinte leigo passivo.

Recentemente em palco eleitoral, esbanjaram-se o verbo “fazer”, tal senso crítico era voraz às administrações anteriores, principalmente, a das ex-síndicas. As críticas tanto do bem quanto do mal eram para os rivais, inclusive ao cidadão mal educado, que joga lixo em qualquer lugar, e cospe, escarra indignidade nas calçadas quebradas e sujas, e abandonam as crianças cuja dor cuja cor não cabe na lixeira dos quintais.

Contudo, e agora José? A chuva estiou-se, com quem fica a chave da cidade, perdida? Então, ficaram os entulhos e as lamas. O barro secou as pragas, contudo, ainda, virão as maiores eleições: à presidência do planalto ou, a menor da hipótese, às câmaras e ao município. São Paulo não carece de promessas vãs nem de fiéis hipócritas discípulos de Jesus, mas exige eficiência dos santos reis. “E agora José?” A saúde à espera de são nunca, ‘inda não cansou de morrer.
In verdades - 24 mai 2005

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Compactuando o tempo às amizades -2008

Anhangabaú - São Paulo fev 2008
Lá no alto do arranha-céu tem um corvo livre e solitário, Espreguiçando-se tempo, tem um corvo livre e sereno, Espreitando-se à liberdade escassa dos anjos de deus. Pousado às hastes da antena, na milagrosa sintonia, Atenta-se, aguarda o homem moderno de pedra passar, Enquanto se entrete com os vestígios do campo, descansa. Convive às amizades a aparição dos girassóis coloridos, Guarda-sóis de guarda-chuvas pintados de esperanças, Estranhos passageiros entre outra distração sem limite, Homens vaidosos e vícios quem perene aos olhos te parece, Administradores de lembranças de valores perecíveis, Longínqua estrada de estiagem secura, Rota das lenhas, secas.

Pois, mira-se vaidoso, tem-se a compaixão, a paciência, espelha-se, mira-se mais seguro e confiante e limita-se a um ser patético, que não finge a causa às duas dores. À mira vem um bando disperso de um e de três irmãos, solitários, no céu de nuvem flutuam em vôos supremos. Um avião na linha do céu vai ou navega e grita e some. E o sol se espalha aflito nas ogivas das fuligens do verão. Entre as árvores, as folhas secas restam às pedras, escuro sertão, À janela, tem-se a ave, a anunciação, Fulminante guerreiro não dá trela se ignora a solidão.

Ocupa-me, acompanha-me entre olhos nas nuvens, Blocos de aço e de tormentos e chumbo agonizam-se, disfarce das águas e das ventanias, mas não chove - Ameaças – o Sol fibrila as cores e vem à tua dor.

Atento amigo! paciência, amigo! paciente tem razão os tempos. - Estive pensando no desperdício das carnes do ocidente. Na ausência do trigo do pão, do macarrão, bolo da Terra, Na quantidade de bocas, santa mãe ainda tem de nutrir! Alimentá-las ao vinho - ao sumo desejo e do teu prazer, Fúria da fome que compõe as necessidades do tamanho mundo, De diferentes estilos de pés cansados, pois seja só assim, O hábito da sobrevivência, A expressão manifesta precária, De quem um dia talvez precisasse provar dessas iguarias.

Por isso, amigo guardião das sombras, Selecionei esses perfis de homens tolos em vídeo, Ligeiros a olhos perdidos, O teu passado companheiro bizarro, Elegante e vistoso a tanto é o céu do teu desejo às sobrevivências.

In Verdades - agosto 2008

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Atávicos sentidos

Copaíba (Copaifera Langsdorfii) - www.arvores.brasil.nom.br

Atávicos sentidos

Felizes e inusitados são aqueles que não têm razão,
porque merecem o perdão.

Bendita sejam as dores daqueles moribundos, porque
não as sentimos e de modo algum queremos tê-las.

Conte mais

Uma mentira
Duas mentiras
Três mentiras
Sete mentiras

O mundo desabou
O homem acabou
O fulano não pereceu

Hoje não choveu
Amanhã choverá
‘Inda pouco anoiteceu

É quinta ou sexta-feira
Sábado amanheceu
Domingo cansou

Depois tudo começou
Mais nada aconteceu
O verbo bradou

Mentira mentira mentira
Não me diga mentiras
Nada passou, mas ficou
Tudo nada mudou
Só mentiras
In Verdades - 2008

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Vôo rasante - Céu errante!

Não te esqueças de que tu guardas as notícias mundo.
Pois, não te esqueças de contá-las aos outros, mundo.

Veja se tais anúncios dos homens atores incontestes,
Vêm somente dos arredores do céu em vôos rasantes.

Quem sabe, Talvez, venham também dos mares além,
Em galeões de aço ou em gritos aos vôos sufocantes.

Veja se vem dos astros a força bruta e estúpida a
Cegar os olhos de aves menores, os pequeninos.

Veja se a todos o espanto sufoca as sombras frescas,
Se as luzes ofuscam as vias dos caminhos do acaso,
Atormentando sem pudor os lares azuis sereno, pois,
Nobre o chão azul etéreo esta jornada de aventureiro.

Soem tão secos hilariantes inescrupulosos palhaços,
Débeis à sorte sem o vento das asas da liberdade.

Desastroso sítio de homens corruptos, feito pedras,
Mármore, legado bem da herança das civilizações.

Ouça as notícias!
Vêm do ciclo dos homens urgentes,
Vêm da paixão egoísta,
Vêm da vaidade em lâmina de aço.

Vêm e mutila as horas, o percurso,
A honra das informações gerais –
Mas por que estreita o meu caminho,
Continuas - tu és tão alheio.
In Verdades - julho 2008

sábado, 19 de julho de 2008

Motivação - 92

Ardea alba

Não sou homem a andar sorrindo
Sou homem a pensar sozinho
A passar sorrindo
Hipócrita
Apesar de

De vez em quando
Eu me esqueço
Adormeço
Feito anjo
Estúpido
Sorrindo

Hipócrita
Sorrindo
Sorrindo ou não
Faz parte de ti
Faz parte mim?

In Janelas abertas - ed. 2007

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Ardea alba

garça-branca-grande: Ardea alba, Lago Merritt, Oakland - USA

Cerejeiras - flores brancas

Washington _ C_ D.C._ Tridal_ Basin _ Cherry_ Trees

Existem pedras estúpidas e teimosas paradas
No meio dos caminhos.

As que não descem nem sobem ladeiras mais longas,
Porque não têm pressa.

As que não sabem andar e ainda são ingênuas criaturas,
Porque não aprenderam andar sozinhas.

As que têm as pernas tortas e são muito dependentes,
Porque corre o risco da fratura iminente.

As que por natureza muito antiga petrificaram em fósseis,
Porque inúteis perderam o elo da esperança.

Vai longe caducando a pedra branca dos cordeiros fiéis.
Da espera o peregrino bate a cabeça em sangue da dor.

Lamenta-se pra mais espera ou pra menos se desespera,
Porque existem pedras mumificadas nos caminhos.

Deixa-se de lado o que não foi da simples vontade do interesse,
Mas da fé, ignorar-te, nem tanto não lamentas.

O que será de ti quando não houver mais fé em pedras brancas.

Caaba todos os dias se acaba em lamentação e mea culpa,
Distancia-se e torna-se escura.

Meca de Adão aos homens de Abraão, ilustres visitantes dos
Tempos, mas pedras duras no meio dos caminhos.

E batem à testa, batem ao peito a mea culpa de nós.

Eu não seria o mais incrédulo a confirmar o desencanto do Real,
“Eis-nos aqui, ó Senhor!”

Os Arautos do Evangelho, solidários à vontade tua Cristão,
pois
Colhemos flores e também os espinhos dos campos.

Caminhemos, avante! Subamos as ladeiras.
Rolemos abaixo as pedras do meio dos caminhos.

In Verdades - julho 2008

domingo, 29 de junho de 2008

"Somos seres cheios de paixão. A vida é deserto e oásis"


Witman morreu no dia 26 de Março de 1892 e escreveu entre tantas coisas, o texto que se segue
“Não deixes que termine o dia sem teres crescido um pouco sem teres sido feliz, sem teres aumentado os teus sonhos. Não te deixes vencer pelo desalento. Não permitas que alguém retire o direito de te expressares, que é quase um dever. Não abandones as ânsias de fazer da tua vida algo extraordinário. Não deixes de acreditar que as palavras e a poesia podem mudar o mundo. Aconteça o que acontecer a nossa essência ficará intacta. Somos seres cheios de paixão. A vida é deserto e oásis. Derruba-nos, ensina-nos, converte-nos em protagonistas de nossa própria história. Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua: tu podes tocar uma estrofe. Não deixes nunca de sonhar, porque os sonhos tornam o homem livre.” Walt Whitman

Apetite Natural

Ao simpático e querido casal Paulo e Márcia

Feito ao olfato odores da pele
a carne posta à tua mesa santa,

Tu és o primeiro, a primeira a sentir o sabor
dos sais da minha fantasia,

Se Tu vens à fome, então coma de tudo e repita a
tantas vezes ao paladar da fartura,

As delícias nuas nas cores cinzas,
das nuvens verdes do sonho, aos olhos
do apetite - piedosa Maria.

Pois ao menos rude é a tua ganância cega dos prazeres à mesa.
Coma!

Mas depois arrote o azedo à insatisfação do destino ao paladar
insosso das manobras vivas das malícias, das indelicadezas do
instinto soberbo natural.

A mesa está posta é farta à tua juventude nobre, é por isso arte.
Coma!
Não tarde ao tempo ingênuo que se junta aos cantos longe do céu,
nem por isso, negue à felicidade,
enquanto aos gemidos afagas risos.

Em lágrimas doces, vêm teus prantos e os meus juntos, risos choram,

São os teus ais iguais aos meus.

Aos homens escolhidos, esse dia é das celebrações à vaidade santa,
Tu és tão ingênua quanto a mim,

Se o apetite for semente in natura, desprovido de argumentação.

Bem, Tu sentaste à mesa e ao meu lado,
Tu comeste deste fado o manjar necessário,
aos hilários espíritos latentes das almas,
e dos desejos,

- Ao que nasceu -Sejamos então felizes.

In Verdades – jun 2008

domingo, 22 de junho de 2008

Macega -capim dos campos

Felipe Massa - vitória no GP da França - G1 globo.com - 22-06-08
As pessoas andam doentes e tristes,
Muito doentes inconstantes e ligeiras.

Parece que existe mundo epidemia de males,
E de noturnos, tudo decorrente de expectativas,
Verdade inteira em si, em vão, em passos retos,
- Absolutamente.

Arribam-se daqui as esperanças fúteis em galopes lentos,
Pântanos pegajosos, precárias estradas cruzam os limites.
Contundentes estéreis e febris espinhos torpes da aridez.

E tu me fizeste o que bem quiseste,
E tu me disseste o que bem quiseste.
- Ouvir-te-ei sempre.

E entre os outros nós das estreitas amizades,
Tantos existem cópia fiel de tristes burocráticos,
Administrando ruínas em ventanias dos oceanos,
Ou em temporais de densas chuvas malogradas
Em bucólicos cerrados hirtos de quintais suspeitos.

Vês como as pessoas estão noites indiferentes, - não.
- Não é por acaso ou por razões tuas.

Quase não se notam à toa, e aflitas as impressões,
Multiplica-se em moedas caras, incolores retratos,
Pálidos das viagens ao redor dos cerrados daninhos,
Espinhos rasteiros, caatingas brancas das desilusões.

As luzes são essas que não se apagam, arde o tempo.
Não anoitece sem o frio da noite, cintilam as pálpebras,
Não cerra os olhos aos 4 cantos e o vento da distância

Afoga-te em dores lágrimas – vence tu!
– Ouça o hino da esperança!

In verdades - jun 2008

sábado, 7 de junho de 2008

Namorados - Ad Amor

Ad Amor - 08 jun 2008

l’Amar fin’à la morte ad Amor piace

Se tu vens a mim e trazes,
Contudo, as minhas dores,
Fico satisfeito o ser e tanto.
Sou feliz.

Mas te vejo tristes prantos em mim,
Porque me trouxeste às distâncias,
A minha angústia, seja ainda assim,
Sou feliz.

Não me canso de me sentir contente, se tu
Não vês a quão fortuna a’ora me chegaste.
Sentemo-nos à sombra desses ares verdes,
Enlacemo-nos as mãos, sejamos só felizes.

Vimos nas árvores coloridas das manhãs de junho
Risos e nas sombras das tardes que nos prendem
Aos laços do estreito amor e da cúmplice amizade,
Sejamos o amanhã, seremos reis dos mais felizes.

Ao fruto a providência divina nos recicla nos transforma.
Somos num só sopro os ventos qual passeia na cidade.
Ouvido das plantas, a geração dos frutos maduros rara.
A colheita farta de quem o futuro promissor nos espera.

Passemos este dia de costum’ em brancas nuvens lidas,
Deste vasto céu sofrido e das sombras desguarnecidas.
Pois, os sonhos vão-se ao longe chegar ao infinito olhar.
Dos tempos que nos falta, sejamos agora mais felizes.
In Verdades - junho 2008

sexta-feira, 6 de junho de 2008

L'Infinito

Baleia Orca passeia na Barra da Tijuca - G1 globo.com
Giacomo Leopardi (1798-1837) - www.marche.it

Sempre caro mi fu quest'ermo colle,
E questa siepe, che da tanta parte
De l'ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
Spazi di là da quella, e sovrumani
Silenzi, e profondissima quïete
Io nel pensier mi fingo, ove per poco
Il cor non si spaura. E come il vento
Odo stormir tra queste piante, io quello
Infinito silenzio a questa voce
Vo comparando: e mi sovvien l'eterno,
E le morte stagioni, e la presente
E viva, e 'l suon di lei. Così tra questa
Immensità s'annega il pensier mio:
E 'l naufragar m'è dolce in questo mare.
Tradução:
Sempre me foi cara esta erma colina
e esta sebe, que por toda a parte
do último horizonte o olhar exclui.
Mas sentando e admirando, intermináveis
espaços para lá dela e sobre-humanos
silêncios, e profundíssima quietude
eu no pensamento me finjo; onde por pouco
o coração não me amedronta. E como o vento
ouço sussurrar entre estas plantas, eu aquele
infinito silêncio a essa voz
vou comparando: e me sobrevém o eterno
e as mortas estações e a presente
e viva, e o som dela. Assim entre esta
imensidão se afoga o pensamento meu;
e o naufragar é-me doce nesse mar.

mai - 2008

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Menino só menino

O Escolar - Vincent van Gogh - Museu MASP - SP

Menino só menino
Andar à-toa entre castas sociais
te atormenta a vez e a toda sorte.

Caminhar à fome longe do teu prato,
ao pão escasso do arroz, às carnes,
sementes do feijão da esperança de
alimentar-te do grão, não te faz gosto.

Ao teu sustento o mundo está indiferente.
Ninguém te vê e nem a tua carência à toa.
Vagas, alheio, um dia vadio sem um nome,
sem o sono. Não têm cores os teus sonhos.
Logo o sol se põe, ao vento frio da madrugada.
Tu, ancião da beira da estrada, não tens u’ teto.
Talvez, não tenhas nem um cobertor dos jornais,
das revistas, dos papéis sujos desta ironia, sorte.
A noit’escura te leva à luz dos zonzos vaga-lumes,
tu não tens ombros, por isso, assim, não te choras.
Aos vultos despercebidos, às sombras das estrelas,
acomoda-te, mas te ocultas da pancada delinqüente.

Lêem-se amanhã as notícias piedosas em manchetes
avulsas ao prestígio dos transeuntes frios a ti curiosos.
Sede, menino, o crítico mudo dos estrábicos marginais.

In Verdades - mai 2008

quinta-feira, 22 de maio de 2008

AÇAÍ


http://www.amazonia.org.br/ - Açaí recolhido da batedeira

Crônica do Açaí

"Sereno Rio Jaburu Depoimento: A longa viagem até a comunidade de São João do Jaburu foi chuvosa e turbulenta, mas ao chegarmos fomos recompensados por este belo final de tarde no tranqüilo Rio Jaburu, e por um delicioso jantar preparado por Dona Maria Lúcia à base de peixe, camarão, farinha e açaí. (19/03/2004)" http://www.amazonia.org.br/

Quanta vez já me dei conta andando pelas ruas da cidade ou em galerias de shoppings de grande movimentação, ter lido em tabuletas as virtudes do vinho de açaí. Que eu saiba, essa frutinha roxa tem delicioso sabor desde a minha infância. Eu me lembro que quando bebia o vinho de açaí com farinha de mandioca torradinha cujos grãos estalavam nos meus dentes, não sentia mais fome nenhuma, durante todo o dia. Bebia-se em vez acompanhado das refeições, à noite dormia-se de barriga cheia e satisfeita. Muitas famílias nesse tempo e ainda hoje se alimentam de açaí e farinha d’água em uma poção, de um azul-escuro com nuance marinho. Já li em alguma estatística oficial que o índice de anemia em crianças da região ribeirinha é baixo devido o teor do composto natural e saboroso do açaí. Pois, é assim mesmo, meu caro e bom amigo, o povo da região, ora bebe açaí, ora bebe abacaba, suco natural de certas palmeiras nativas da Amazônia, ou suco de taperebá ou de murici, frutinhas saborosíssimas e ainda come pupunhas cozidas ao café da manhã, à falta do pão e do leite.

Li ainda pouco numa tabuleta frente a uma escola de 3° grau, aqui nas redondezas do centro da cidade, bairro da Liberdade, que uma poção de açaí é milagrosa, equivale por não sei quanto de teor vitamínico necessário à energia do organismo, é pura fonte de proteína ao frescor da bela idade juvenil. Peça o suco servido em cuia, tigela própria para se servir da poção mágica da fruta do momento: prove o açaí verdadeiro, dizia a tabuleta. Um dia desses, passeava pelo shopping center, então, resolvi experimentar a tal poção: o moço que me atendeu garantiu que o produto era da melhor qualidade, pois, logo me perguntou como eu queria beber o açaí, se queria com granulados de chocolates, com charutinhos de waffe caramelados, chantili, leite de coco, etc., ou se com sabor de acerola. - Fiquei imaginando, puxa vida! - Quanta opção! O que fizeram com o açaí! Fiquei pensando e pensando e, então, resolvi pedir a iguaria acompanhada com farinha de mandioca, aquela amarelinha e bem torradinha made in Cucurunã. O moço me olhou bem, sorriu timidamente e me disse que não me entendeu, assim como, eu também não o havia entendido, mesmo assim pedi que me servisse à moda da casa, a que tivesse mais saída.

- Prontamente senhor: aqui está o seu açaí! Bom proveito. – Obrigado.
Pois é, meu caro amigo! Provei o açaí que não tinha gosto de açaí, e além de todos os sabores imagináveis ainda havia “borra de café coado em filtro de pano”, tinha sensação de que eu engolia pó de café ou areia fina, cristais de açúcares insolúveis. Imediatamente chamei o moço uniformizado e de “quepe” de soldado, em detalhes vermelho e branco, camisa branca com detalhes vermelhos a cor da calça e tênis à moda jovem rebelde. - Pois não senhor, em que posso ajudá-lo? - Isso que o senhor me serviu é açaí, mesmo? - Sim, senhor, é açaí! - Todo mundo gosta, bebe essa “iguaria”, acha o máximo e sai daqui feliz. - Veja quanta gente vem experimentar o suco. - Veja quanta gente jovem e bonita e descontraída bebe açaí! - Pois, muito bem! - Então, perguntei do moço: - o senhor já bebeu açaí? - Claro! Bebo sempre que posso ou quando sobra nas tigelas, né? - É. Eu sei como é essa coisa, respondi. - Responda-me uma outra coisa, - pois não senhor! - O seu chefe ou encarregado de serviço ou se possível o seu gerente, posso falar com um deles? - Mas o que foi senhor, não ficou satisfeito? - Não. Não é nada disso, mas gostaria de dar só uma palavrinha com o seu gerente. É possível? Indaquei-o.

Nem demorou, veio o gerente. - Pronto senhor, em que posso ajudá-lo?
- Bem, eu li a tabuleta e todo esse marketing sobre o açaí, tomei a coragem e resolvi provar tal fantástica iguaria. - Então, o senhor não gostou? - Não, não, senhor Gerente, não é isso não! - Mas acho que não me serviram o açaí, porque eu havia pedido à moda da casa, cheguei até pensar que estava numa filial de algum quiosque de Belém ou Santarém ou até mesmo de Manaus, pois me enganei redondamente: açaí nesses lugares tem gosto de açaí, bebe-se em tigela-cuia com ou sem farinha, o senhor conhece a farinha d’água ou a de tapioca? - Não, não conheço essas farinhas. - Pois é senhor gerente, o seu produto não é açaí. - Pode até ser um concentrado de essência de pouco cheiro da fruta deliciosa, decorada com melaço colorido, para agradar crianças e jovens à mercê das “modices passageiras”, pois, para qualquer paraense que passe por aqui a provar a sua “coqueluche” irá esconjurá-la. - Quanto custa essa marmota? Meio sem jeito, respondeu-me educadamente o gerente: - Bem, se é assim, senhor, não lhe custa nada. – obrigado.

Melhor para mim, porém, já sentia a rejeição do estômago a tal sedução pelo gosto da saudade, tristes saudades dos quiosques das tardes quentes de Manaus e de Santarém – distante Amazônia. Portanto, meu caríssimo amigo, não se deixe levar pelo saudosismo, uma vez, disse um poeta da daqui –Concretista- Décio Pignatari: Beba coca cola / Babe cola / ... / cloaca.

In Verdades - Textos reunidos - 21 mar 2006

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Contos dos Sóis II

Foto: Galleryviewer
Amazônia paulistana
In memoriam aos meus pais, saudades dos meus irmãos.
Janelas abertas
Parte I

Ainda menino, naquela época, usava-se calças curtas com suspensórios. Hábito comum à criança da minha idade. Meu pai, homem simples, trabalhador, aventureiro, 14 filhos, sonhava dias melhores para os seus meninos. Numa dessas oportunas aventuras, arribou-se já de Manaus-Am nas asas da “Paraense Transportes Aéreos – ‘Douglas DC4­­­­­­­-PTA’”, acho que deveria ser esse o nome da aeronave, 9 horas de vôo. Lembro-me do meu saudoso Tadeu, irmão querido e briguento, meu defensor, que ao meu lado entre as nuvens no céu voavamos, num frio danado, e enrolado num cobertor de “feltro”, ficara permanentemente pálido e mudo, enquanto os outros dormiam o sono inercial da aventura das aves migratórias.

Novembro de 1963 – Congonhas – Planalto de Piratininga. Ainda não esqueci a última pergunta da moça de sotaque diferente, alta e de cabelos presos, ao meu pai: “o senhor vai para o Rio de Janeiro ou vai ficar em São Paulo?”, que coisa mais estranha o tom da voz da aeromoça!

Começava a minha aventura, 13 anos, o sol amarelado naquelas manhãs do novo mundo. Os meninos da minha idade de faces coradas pareciam personagens de filme em qualquer tempo de matinês, farwest americano, eram para mim muito curioso. Cadê os rios, os igarapés? Cadê as chuvas, as árvores grandes, as mangueiras carregadas de frutos nas avenidas, ao vento das tardes em temporais, e as canoas à vela da minha cidade, e os mares doces onde estão? Agora, tão distante, eu corria atrás da bola, pois, outros tempos começavam. Ainda se ouvia suspiros de torcidas rivais de time de futebol em brincadeiras de meninos que gritavam gol! As cores verde e branca foram a minha primeira impressão. Aderi às cores verdes de então. Meu pai às cores do trabalho. Mamãe esperou até abril e pariu o caçula. Meus irmãos ganhavam impulsos e saíam correndo atrás das oportunidades e da vida.

Na cidade, às tardes garoavam, as noites eram frias. As manhãs amanheciam cobertas de névoas e de um ventinho gelado. Eu caminhava à escola bem cedinho com outros meninos, e ouvíamos prenúncios de rumores de política nova, tempos duros e agourentos. Aqui do centro histórico da Praça da Sé, eu via o vai-e-vem de gente apressada, distribuída por corredores entre ruas e fachadas antigas, imagens de Charles Chaplin - ­Carlitos - Tempos Modernos, que se esvaeciam. Rua Direita, 15 de Novembro, Boa Vista. Ruas lotadas de rostos indiferentes que não se viam. General Carneiro, 25 de Março e Ladeira do Porto Geral – histórias que me confundiam. Do Parque Dom Pedro II surgia gente vindo de todos os cantos da cidade. O ônibus que me trazia até a Sé, esquina Roberto Simonsen, durante um percurso de 45 minutos, cobrava do usuário CR$0,30, hoje não tenho noção do quanto vale ou valeria esse valor, talvez, R$2,30 ou a tarifa de então.

Seguia-se o aprendiz de qualquer coisa, atendia as chamadas telefônicas e despachava “peruas”, carro médio, transportes utilitários de cargas pequenas. Nos intervalos, eu saía da Rua da Glória, 603, porta a porta a distribuir panfletos da entregadora do senhor “Garrido”, um espanhol gordo e divertido que enquanto aguardava as chamadas, divertia-se com os outros motoristas a jogar dominó aos gritos e palavrões. Andar pelas ruas ­­­- eterno vagabundo -, eu gostava, assim conhecia e assistia a cidade crescer. Descia a Rua do Lavapés, subia a Lins de Vasconcelos até a Aclimação, Vila Mariana, descia a Rua Vergueiro até o Paraíso. À Padaria Viana, às vezes, com qualquer trocado, eu comia um pãozinho com café-com-leite e, ainda na volta, caso sobrasse panfletos, jogava-os riacho-abaixo no córrego da atual Rua 23 Maio. Como era cansativo sob sóis do meio-dia retornar a pé à Rua Glória.

Quase todos os dias era a mesma ladainha. Bom Retiro, Moóca, Braz, Belém: saudades da minha terra, Santarém, cuja capital conhecia de ouvinte. Na volta, o bonde quando eu tinha algumas moedas, quando não, a passos longes, pagava a minha penitência. Descia a Rua da Moóca, Glicério, Conselheiro Furtado e a Rua da Glória. A Liberdade já prenunciava traços e movimentos de asiáticos. Eu via a cidade ficar populosa. Na hora do almoço, comia pão com mortadela esquentada na chapa, bebia refrigerante “tubaína”, porque me lembrava a cor do fruto do guaraná da Amazônia, castanho-escura e, enchia a barriga de energia precária. Quanta história faz um imigrante na metrópole paulistana!

Eu tinha uma visão glamurosa de certos pontos da cidade. Hoje penso que era devido a humildade trazida da minha criação na Amazônia. Bráulio Gomes, Sete de Abril, do cinema que sumiu. Galerias, Nova Barão, Ipê, Metrópoles, Cine Lido da Rua Dom José de Barros, do Colégio Caetano de Campos da República. Eu me lembro de uma vez ter comprado o peixe pirarucu em postas salgadas na “Casa Godinho” da Rua Líbero Badaró, embrulhadinho que nem bacalhau seco. Foi uma festa quando cheguei a minha casa. Depois, sumiu o peixe da prateleira, não mais o vi à venda.

Certa vez, fugindo da chuva e da enchente do Tamanduateí, adormeci sob a guarida da Secretaria da Fazenda junto com outros meninos colegas de trabalho da firma “Instituto de Ótica Mino Lens”, quando baixou "a maré”, margeei a Avenida do Estado rumo à zona leste, destino Vila Industrial, bairro distante de todos. Não me lembro a hora da noite que cheguei a casa. Outros dias vieram à encomenda do progresso, os bate-estacas, as britadeiras e as picaretas arrancavam trilhos dos bondes do chão de paralelepípedos das ruas do centro da cidade. Certo dia, o Edifício Mendes Caldeira implodiu, com ele se foi o Cine Santa Helena. Curiosamente, como havia moços de fretes, comércio de alugueres promíscuos à porta do cinema. Na Padaria Santa Tereza da Praça João Mendes Junior, havia variedades de doces e de salgadinhos tentadores, e aroma de café com leite. Quando restava um dinheirinho, eu bebia uma canja quente de galinha, era meu almoço. Parecia que a cidade era mais fria. Eu tinha muita saudade do calor úmido de Manaus e de Santarém.

Sob o Viaduto do Chá, havia a “Liga das Senhoras Católicas” que servia comida a preços convidativos aos que contavam as moedas para almoçar. Alguns insatisfeitos comentavam entre outros “boys” que a carne era de gatos que ficavam a reverenciar as estátuas do jardim mal cuidado do Vale do Anhangabaú. Rui Barbosa era o mais cortejado. Parecia que os coitadinhos exigiam do patrono um habeas corpus para suas vidas efêmeras.

Houve fevereiro grandioso no MVNICIPAL, no início dos anos 70, trabalhei de aprendiz de eletrônica e de iluminação decorativa, para o baile de carnaval que a firma havia feito a iluminação e a decoração do baile de gala. Pulei, pulei e pulei de smoke, alugado pela Atimil Ltda., eu puxava fios elétricos e controlava as luzes coloridas. Foi um carnaval e tanto. Outra vez, provei uma sopa de cebola na Estação Rodoviária da Luz. Da estação peguei um ônibus-leito e acordei nas serras de Caxias do Sul e depois Novo Hamburgo, numa feira de couro e sapatos. Naqueles tempos, muita gente chegava a São Paulo. A cidade era uma metamorfose em expansão. Encontrar-se aqui fazia a diferença. Os sotaques do Brasil, português-ítalo que restou das penínsulas dos além mares. Sou paulista-paraense que aprendi a comer spaghetti e frango al sugo e apreciar os tintos, à noite pizza. Hoje, tenho Lucia companheira e Enzo, um menino sadio e belo que aos pouquinhos tentam apreciar o açaí, tacacá, tucupi “taído”, quando encontro às saudades. Mais ainda não vimos de perto os suplícios do Círio de Nazaré nem a romaria de Nossa Senhora de Fátima!

In Verdades - textos reunidos 2005

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Contos dos sóis I

Foto: Ronaldo Ferreira - Lago Grande - SantarémPA
In memoriam aos meus pais, saudades dos meus irmãos.
Janelas abertas
Parte II
Do sobradinho da Avenida Paulo Pereira de Queirós, 89 — tenho muitas lembranças da casa dos Viana Martins. Todas boas. Ruins nenhuma, porque esquecia das coisas que não gostava, quase sempre ficavam sem registros. No início dos anos 80, mudamos para uma casa maior, onde vivi dezesseis anos. Num pequeno pedaço de terra do quintal, no canto direito do sobrado, cresceu um pé de abacateiro que ficou bem copado, floriu e produziu algumas gerações de frutos até metade dos anos 90. Papai foi quem plantou a espécie, um dia, lembro-me com ternura, ele enterrou o caroço da fruta que mais apreciava. Era docemente cultural observá-lo a cultivar, comer abacate, então, era-lhe o doce preferido! Logo, não demorou, a árvore cresceu e deu frutos, e se tornou o meu mirante favorito, e abrigo aconchegante dos passarinhos das manhãs e das tardes quentes de verão, bem-te-vis, pardais, algumas pepiras, xexéus e beija-flores também, porque mamãe havia plantado algumas roseiras ao redor do abacateiro.

Havia harmonia e equilíbrio perfeito naquele sobradinho. Cumplicidade é o melhor termo para definir o que de fato havia entre os membros daquela pequena casa dos Viana Martins. Construída numa área pequena, que tirado a planta do sobrado muito pouca terra sobrara. Nesse cantinho ficava o abacateiro próximo ao muro de arrimo com a avenida, que numa curva acentuada à esquerda acompanhava a silhueta paralela do edifício à extensão do terreno. Mamãe regava as flores, alimentava um jabuti, ora, então, um filhote de papagaio e de arara, que comprara às escondidas de uma infratora do IBAMA.

As aves cresciam e tagarelavam e gritavam ao verem o tempo verdugo se aproximar de suas existências e do casco sujo e carcomido do jabuti. Mamãe entrava e saía, ora subia e descia, ora cantarolava — senhora das situações, vivia. Ainda hoje eu escuto mamãe cantarolando na minha cabeça de fios de cabelos grisalhos. Guardei algumas modinhas de cor. E quando estou mais feliz, muito absorto, canto-as, quando menos feliz, tenho saudades desse tempo agora mítico.

Nos passos de papai, via o tempo se aproximar mais acelerado. Aposentado, dormia cedo e pernoitava as madrugadas. Mamãe dormia mais tarde, porque apreciava o sono leve e a vida da tarde lenta, às vezes quente, de verão. O tempo já lhe pregava peças da existência e da realidade poluída contemporânea.

Amanhecia... Antes d’eu sair de casa para o trabalho, ouvia o canto dos passarinhos vindo do minúsculo pomar: as maritacas em bando gritavam, os beija-flores pairavam ao néctar das rosas, os bem-te-vis brincavam no pé do abacateiro. Papai nem esperava o sol nascer, ainda escuro, cedinho preparava o café e o leite fervido, o pão ainda estava quentinho, era sempre o primeiro freguês da padaria. Não me lembro ter saído para trabalhar sem ter tomado o café com leite e pão com margarina. Papai preferia manteiga salgada, aquela da lata fazendeiro. Nesse tempo a dedicação de papai a mim não tinha preço que a pagasse. Eu precisaria esperar meu Enzo crescer e me aperceber de tal competência. Tudo era simples e bonito. O dia a dia da nossa casa era assim contínuo: amanhecia, entardecia e anoitecia; novidade só para quem quisesse perceber novidades. Depois da meia-noite eu chegava, o meu prato-feito estava pronto sobre o fogão ou na geladeira, às vezes, nem requentava embora mamãe descesse de seu quarto. “- Bença”, mãe! – Deus te abençoe! Eu evitava sempre incomodá-la, pegava o prato e ia para a sala assistir o jornal na televião enquanto comia assistindo os resumos das notícias do dia, assim eu fazia a digestão, então amanhecia. Todos os dias eram assim:

- Depois da refeição e dos afazeres domésticos, mamãe gostava de andar pelas vizinhanças, enquanto papai tirava sua sesta, balançando-se em uma rede armada na cozinha. Dormia cercado de animais: um cachorro, um loro mal-criado e, algumas aves domésticas, inclusive dois ou três patos que sujavam a cozinha. Por longo tempo presenciei e ouvi muitas histórias de família. Às vezes, papai dizia que “viajava” todos os dias para Santarém enquanto embalava-se na inércia do meio-dia. A dona Lourdes o chamava de tolo e sujo, esbravejando-se: - sai do meio da casa! - Quanta sujeira! Não és tu quem lava! Ainda ouço o eco de sua indignação momentânea.

Na área livre, da lavanderia, paralelo ao muro, saía uma corda de varal de roupas que papai esticara até uma entradinha de um portão à tramela próxima do abacateiro. Um dia, desses mornos e preguiçosos, enquanto papai fazia um cafuné na “laica”, cachorra dócil, sentado sob a corda do varal, passava o equilibrista loro -”corrupto”-, alusão a um cunhado que se passava por esperto, eu disfarçava e dizia: que era uma alusão a maluf, político muito conhecido da população de São Paulo -, mirou-se perpendicularmente sobre a cabeça de papai e caiu inerte. Suicidou-se! - Lourdes! – Lourdes! Vem aqui ver uma coisa! - Corre! O corrupto morreu! - Quem? - o maluf? -Não! - o corrupto, o loro, - Corre! Corre!

Foi uma consternação só. O mal-criado verde-amarelo pagou com a língua: havia comido “racuim”, um veneno contra ratos que papai guardava na prateleira da lavanderia na qual o corrupto tagarela tinha acesso livremente, “achou” que fosse alpiste, talvez, e o comeu. Os vizinhos mais próximos foram avisados. Acompanharam o sepultamento num terreno baldio da prefeitura d’outro lado da rua. Até eu fiquei às lágrimas, longe e solidário, da minha janela à vida tudo perece assim.

A arara foi uma doação de um outro genro, atração à parte, ficou bonita, mas um dia assustou-se e bateu asas e nunca mais voltou, mas ficou a saudade. A cadela durou mais um tempo, ficou preguiçosa e sardenta. Morreu asfixiada pela maldade alheia.

Logo, papai conseguiu outro filhote de cão pastor, “mamute”. Não me lembro de quem foi o presente, acho que foi de outro cunhado próspero -Pitanguy -, e o criou com toda dedicação. O jabuti, coitado! Arrastava-se sob sol à chuva ou frio. Tinha o pescoço magro, ficou mais lento. Sobrevivia à custa de folhas de alface e bananas, verduras e frutas prediletas de papai, além de abacates. Cansei de vê-los dormindo ao mesmo tempo, papai em sua rede que trouxera de Belém de seu último passeio entre os anos de 91 e 92. O jabuti, não se sabe que fim levou, possivelmente, tenha perecido com o abacateiro. O canto dos passarinhos, os gorjeios silenciaram-se. A harmonia e o equilíbrio da casa ficaram em pé, por mais tempo. “Mamute”, o cão, cresceu e assumiu o posto de guardião do sobrado, mais tarde, também foi asfixiado com bolinhos de carne e possivelmente areia de vidro por malvados alheios.

O seu Silvio adiantou-se à velhice. Octogenário e sadio, mas se sentia entediado e saudoso de lembranças longínquas de Santarém, terra natal. Muitas coisas o incomodavam, mas ficava feliz com a presença dos filhos reunidos em volta à mesa. O almoço dos domingos sempre eram movimentados. Do meu quarto, ouvia-se as tagarelices de meus irmãos, às vezes, alterados por bebidas em excesso. Eu descia e explodia em discursos moralistas e a festa acabava. Claro que eu era sempre o vilão! Várias vezes isso acontecera, coisas de muitos, 14, irmãos! Eu tinha 49 anos. Vi o último dezembro e janeiro entre fogos de artifícios pipocando no céu, os anos 90 iam-se fechando, eu tinha os meus desejos definidos, mas distantes, e sobre o parapeito da minha janela ou debruçado sobre o muro do portão, via o meu horizonte nas luzes e nas estrelas do céu e, no último janeiro dos 90’ me casei, sem festa, só um almoço bem simples na casa de minha sogra, italianos convictos, para os padrinhos e minha mãe, papai me abençoou, mas não quis participar do almoço, sempre dizia não gostar de festas, embora não houvesse a tal festa que o imaginava.

Dezembro 25 - Natal - 99, mamãe teve um mal súbito. Muita coisa mudou por lá. Depois outros males súbitos apareceram. Mamãe ainda viu o neto caçula nascer. Um ano e sete meses depois, mamãe partiu. Seu corpo como era de seu desejo, disse-me uma das irmãs, Vitória, no velório do Hospital do Servidor Público, queria que fosse cremada em Vila Alpina. Suas cinzas jogadas ao mar, também era de seu desejo. Guardo a última imagem da família e de amigos reunidos em torno do ataúde sobre a Câmara Ardente. In memoriam, pedi à Administração que executassem um réquiem em homenagem à sabedoria e à vida.

Papai, 85 anos, muito se angustiou, perdera-lhe o sentido à vida, sessenta e dois anos de união pereciam num tempo contínuo e sem fim. Oito meses depois, deprimido, fez-se doente e indiferente a tudo. Eu disse muitas vezes para alguns irmãos que o visitara no Hospital que papai era um homem resignado à vida. Um dia, à noite de domingo, partiu para a aventura final. Foi sepultado na segunda-feira no Cemitério de Vila Alpina.

Faz três anos de seu sepultamento, mas ainda está incompleta a minha missão. Devo pedir a exumação do espólio, dessa brava gente, e com o mesmo propósito e o mesmo fim que demos aos espólios de mamãe, cremá-lo. Hoje, 25 de julho de 2005, junto com quatro irmãos, Sinésio, o mais velho, "cecílio", "nando", Bento e eu, assistimos a exumação de papai, e de comum acordo com os demais, pedi a cremação. Pegarei as cinzas 5 de agosto. Hoje, como fiz de tantas vezes esse percurso, transporto as cinzas de papai, tenho a sensação d’uma viagem insólita, aos olhos vêm-me as lágrimas d’um tempo vazio, levo de volta a casa as saudades de papai num ataúde minúsculo e lacrado aos olhos. Um dos irmãos -"cecílio"- pediu e se ofereceu para espalhar as cinzas ao mar das lembranças de mamãe e da eterna criação de Deus. Guardo as lembranças dessas vidas queridas, a mamãe e a papai todas as honras. Perdas irreparáveis, eternas saudades, ainda ao tempo que terei de esperar o meu fim, porque penso no tempo do sem-fim enquanto pereço todos iguais.


In Verdades -textos reunidos 2005