quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Fragmento -2003

A moça do rádio anuncia:

Vinte e três horas e trinta e um minutos em São Paulo.
— Mentira!

“A mentira não está no discurso, mas nas coisas”.

Então as coisas são mentiras e o discurso pode ser meia-verdade,
Porque o discurso diz da mentira que são as coisas meia-verdade.
Mas por que meia-verdade o discurso e não uma verdade-inteira?

— Porque aí entraria o prolator da dita meia-verdade que também é
Uma mentira. — Efêmera mentira?

— De quê coisas tu falas, homem solidário, dom primitivo, inacabado?
— Falo da vida! - Do dom de perceber os instantes das horas restam.
— Então, tomo as tuas palavras! — o homem é uma mentira?
— É. A vida per si é uma mentira longa sem história, absoluta.

— Mentira longa absoluta! - como é assim?
— Eu sou uma mentira? — Absoluta sim?
— Sim. No Universo grande, flutuamos assim! - Mentiras.

— Somos bolhas d’água avulsas, azul.
— Sangue-éter do vulto da esperança!
— Mentiras absolutamente.

— Vale-se do que está escrito só enquanto se lê o manuscrito.
Depois tudo acaba!
In Verdades - 4 nov 2003

Um comentário:

Anônimo disse...

"Meu amigo Simão", prometo pensar neste tema "Pronto-Socorro!", volto qualquer dia ...

grande abraço.