quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Verdade alheia

Fórum J. Mendes Jr. fev 2008 - São Paulo-SP
Hei, tu de feição perdida, escreva uma poesia, é fácil!
Feche os olhos, imagine, invente uma harmonia n’alma.
Ou então conte pra si uma mentira bruta e sem espanto,
Desolada, impiedosamente roubada dos seios da mamãe,
Irada, desconsolada - ‘inda chorando. - Isso é poesia?

- Não sei. Mas não te preocupes com o desatino dos versos
Pois, na literatura tudo é alheio, tanto vale o que se diz: - tese,
Sem se valer de explicação nula, a não ser que só tu-emotivo
Sejas infiel e tenhas o interesse de recriar a criação - mentira
Tua. Assim, se não interessar a ninguém, não te lamentes.

Deus nenhum imaginário se importará com teus falsos versos.
E daí, se a mentira e os versos são jogos difíceis e gratuitos?
O que vai valer no fim da linha é o que vai ficar postado, olhos,
Ligeiras vitrinas e prateleiras apertadas em sebos da mente.

Sorrindo, veja se podes fazer um poema certo em linhas tortas.
Ou insista com linhas retas, porque só assim a Arte é notória,
Comparada, assistida em frases longas, colorida imaginação.

Hei, moço da farsa vil, escreva, faça a tua história – não te negue
As horas, nem deixe traços pendentes à incompreensão de homens
Sós. Dedique-se a esmerar os riscos das verdades mudas de outrem.

As mentiras despreocupadas deixem-as postadas em versos em rede.
Olhe bem - crie espaço - portal personalityblog é moda – internet web.
Não se preocupe, pois, os termos, o tempo apaga tudo e sem distâncias.
– Nem de Nós!


In Verdades - 08 abr 2006

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Homenagem - caros amigos!

Escadarias da Sé - Fev 2008 - São Paulo-Br.
20 novembro,
Dia da consciência negra,
Sem trocadilhos,
Diria somente assim,
Fosse apenas com uma ressalva:
Qualquer dia sem feriados
Universal.

Os homens de boa vontade,
A perfeição à consciência.
A atitude à perseverança do amor,
A criação à semelhança de Deus.
Louvado seja a consciência!
Incolor indolor renitente.
Arte é viver.
Abraço,

simao
In Verdades - 20 nov 2007

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Igual tempo passado

Era passado um ano
Um século um erro
Igual lembrança de teus olhos
Vida igual a forte luz escureceu

Hoje não há mais presente
Há vulto e futuro ausente
Ilusão outrora feito insônia
Dor e demência de quem sonha

Hoje é ontem tão presente
Não há passado nem futuro
Descontente é tarde e à noite o sol
Ardente caminha o tempo pro poente
Igual Era que se pôs silente
Sob dura cruz de aço frio
Amargo gosto que se diz átomo

In Janelas abertas - 1ª nov 2007

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Flor Cris

Pronto! Aqui é São Paulo, Bela flor!
Dá-me a tua mão menina
Seguro-a e do teu beijo
A saudade não conta
Coração

Aqui é o marco da civilização
Partiremos então para o mundo
Seguiremos nas asas d’avezita branca
Vamos para o Oriente longínquo das danças
Miragens dos oásis e das múmias inesquecíveis

Então nos mandamos para o Ocidente
Para os acidentes dos nossos pés descalços
Os nossos beijos úmidos e condecorados
D’emoções! Vamos meu bem!
P’ra nossas vidas não marcadas

Ainda, tudo é novo!
E o teu beijo — meu sono despertou

Vamos menina pisar São Paulo
Este é santo é indolor
Dá-me a tua mão
Teu doce beijo!
Vamos por aí, meu coração!

Olha! Vê a Santa-Sé
Não há missa. Há cânticos!
Corramos! O metrô p’ra norte
Vamos p’ra leste — oeste
Vamos, menina, p’ra sul!

Eu te dou meu beijo-ardente
E os teus olhos minha luz
Eu te dou meu sangue-fogo
E teu modo-menina é meu abrigo
Vamos pisar-sair-correr!

Vamos, menina, passear
Vê São Paulo
Flor Cris Flor
Somos nós!
In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

São Paulo - também é meu amor!

Bandeirantes, paulistas são sinônimos de progresso e ousadia. Raposo Tavares, Fernão Dias Paes, Borba Gato, aventureiros viram o sonho da riqueza do Brasil. Manoel da Nóbrega, soldado incansável da fé e da catequese astuta, da missão tropical: Herdeiros obstinados continuam pregando, serrando, montando e construindo arranha-céus. Eis o teu pretérito, riqueza e glória.

Do Páteo do Colégio, Anchieta viu o futuro glorioso e empreendedor do Brasil. Do mirante palco alvissareiro, viu a pujança gótica despontando para o céu, moradias seculares. Viu o um rebanho de milhões! Almas grandiosas de janeiro em progresso. Missa e cânticos e homilias louvaram o Rei da terra Santa prometida.

Vede senhores do trabalho os frutos da terra, o quanto valeu à pena as aventuras santas, investidas de bravuras, sonho do mundo novo dos Galões dos além-mares. Onipresente porvir qualquer sol, chuva ou sombra, o tempo aqui não Te consome. Somam-se aos motivos ideais, herdados da fé e do apego às oportunidades oriundas nas vias dos arraiais.

Seguimos teus longos trilhos e pontilhões de concretos sobre a flora viva da mata atlântica. Corremos por avenidas Interlagos dos Esses e da ferradura da reta do sucesso. Contamos e redescobrimos histórias meticulosas e vimos às metamorfoses de libélulas coloridas em jardins em parques verdes de esperança.

Vejam-se aqui sob ares cinza do progresso, bravíssimos paulistanos! Máquinas e “tatuzões” cavando sob a prometida terra, reinventando os raios de luz. Vejam-se! Projetem-se! Nestes lustres fios 25 de Janeiro, ab origine ad gloriam. Teus lagos, oásis de pardais, canários da terra, bem-te-vis e de sabiás. Fauna e Flora, ecossistemas de bichos índios, europeus, africanos, todos somos nós.

São Paulo, asas do porvir sustentam o teu pendão no labor. Mater acolhedora! Amanheceste e ao tempo, és a merecida. Se fizer sol ou se fizer chuva ou se ainda garoar ou sobre Ti não cair pétalas de rosas nem aplausos esfuziantes, discursos eloqüentes, ainda assim – ó mãe querida! Eu serei teu único filho a Te render amores, gratidão neste dia de Janeiro, ad eterno ad-gerações!
In Verdades - 25 jan 2008

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Janeiro 22 -12h30

Pq. da Aclimação - fev 2008- São Pauo-SP
O quê Me leva a pensar e escrever? A hora do almoço quente e o cheiro do feijão com arroz de janeiro se vão todos os dias. Na contramão, as pessoas nem se dão, correm apressadas. Agora, poucos Me conhecem, Somos estranhos entre vias.

Não faz muito tempo, foi no início de dezembro, havia clímax – festas! As crianças ingênuas pediam brinquedos, desejos se revelavam em sono leve, papai-noel muito sonho realizava.

Muita gente sorria e abraços prósperos, afetuosas promessas, recíprocas fraternidades em edição original mais sustentável, mais uma vez se repetiam em lares, escritórios, nas ruas e nos jardins das convivências.

Entretanto, nem chegaram 31 dias! Você passa, eles passam, Eu por derradeiro passo, nem Te conhecia, era estranha à visão dos Meus olhos doentios, porque as pessoas não têm que se darem vez por vez.

As crianças brincam ao seu tempo completo, crescem e se reproduzem ao ciclo natural das horas do dia. Os homens se pesam de adultos insatisfeitos, recíprocos cruéis, torturam-se e prendem-se a nós de marinheiro bandidos.

E sentem-se às coisas do mundo o desatino, por isso são derradeiros. O homem insiste ser versão desigual, corre e em si tropeça, desce e sobe em escada-rolante ao topo, piso que nivela a arrogância de cada um. No entanto, estou Só.
In Verdades - jan 2008

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Tarde de Verão

Não se iluda com estas sombras frescas na cidade, pois se estão avulsas e perdidas, eu ainda não sei. Corvos te olham à espreita do céu em nuvens escuras da tarde do verão e as andorinhas em vôos rasantes entre os fios elétricos desviam as asas dos galhos das árvores da praça do fórum da cidade, pombos alheios se agitam entre gentes marcadas e excluídas às margens sociais.

São aves sujas em bando rolando no chão cuspido, defecado, odores de urina, esperam as águas das nascentes, rios em galerias das marés pluviais, para o frescor da tarde de janeiro. Nato morto visto com olhos indiferentes, catam migalhas e farelos de pão e cospem em pés descalços, em galhos secos, entre dedos e odores aos cantos tristes, tediosos de sabiás, pedintes e irrequietos.

Lá no alto sobre a colina de pedras sem mato verde, olhos assustados esperam em comboios enfileirados, às badaladas do Sino da SÉ, gente que se vai e se vem, têm pressa, os transeuntes passam que partem logo rumo aos purgatórios noturnos da periferia, antes do temporal em trânsito caótico, escura fumaça de gás-tóxico e decibéis, inundar teus olhos, não se iluda.

As árvores daqui são mais frondosas, os caules entrelaçados góticos arranham o céu, sobre as nuvens, folhas em janelas coloridas, algumas mudas em verde desbotado à cor do sol, amarelo cinza da tarde de janeiro e raízes fincadas em cimento. Dos ninhos subterrâneos brotam os filhos de pardais em troncos e choro sufocante das latas poluentes.

Não há quem diga nem quem se lembre d’outros tempos de jardins do paraíso, riachos límpidos, amplos campos em colinas da Mantiqueira enfileirava verde-musgo cafezais! Transmuta a correria de canaviais em néctar de açúcares venenosos do gozo extintos dos bem-te-vis.

Vem ter dessas preces! Mas não se iluda menina, pois são ásperas, ingênuas e quase nada eu sei de ti. Vem ver se condiz com a tua verdade o quê de natural perdeu o valor, e a consciência, nada importa mais. Vem que ainda há luz e tudo de mal-me-quer passa em tempo perdido dos cronômetros agonizantes, não se iluda mais, menina, chove.
In Verdade – 21 jan 2008

sábado, 19 de janeiro de 2008

PARLATORIUM

Nesse instante me dei conta de que tudo que me disseste
Era verdade, não poderia ter sido diferente...
Embora eu vivesse entre montanhas altas ao clarão das luas,
Longos rios de correntezas rápidas lavavam os meus pés sujos.

Nunca me faltou quem me dissesse o contrário, maneira diversa e grata de viver.
Eu sabia de tudo, antes de mãos vazias, vivia ao gosto, gozo da juventude ingênua.
Sentado e pagão, entretanto, me sentia o mais cristão dos apóstolos de Jesus,
Judas! Veja só o que me disse uma vez a Lua! — Ingênuo eu fui...

É verdade que a natureza reflete o futuro ao tempo esperado,
Diz-se do tempo completo ciclo glorioso e ermitão da existência
Da nossa cruz fado-Universal, bendita cruz!

Agora, dei-me conta de que não fizera, hoje! Amanhã já é noite escura,
Tiveste sempre razão, entendi. Viste-me de branco nulo-transparente,
Em luto complacente guardava a penitência das almas conformadas afins.

Espaços vazios, nuvens nebulosas cinzas passageiras, céus horrendos!
Anjos tortos de marfim teimosos me diziam das mentiras e da única
Verdade de sentir, contudo, fiz de conta e não Te ouvi.

Subi em palco de luzes tristes de sombras,
Representei, fingi e menti à toa me divertia.
Cantava, mas não Te ouvia.

Irresignado, até que um dia desse desocupado de qualquer tempo,
Resolvi outra vez tentar Te ouvir.
In Verdades - 13 jul 2005

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Quando eu te conheci

Vibravas entre deleites desastrosos
Era uma pequena nuvem de fumaça
Qual espalhava teimosia, chuvas
Que de sóis ardia

Um pequeno vulcão dividido entre amores
Sôfregos e dores que de solidão
Às vezes se embebecia
Que de sonhos se dormia

Outras manhãs
Via-te sorrir
Tantas vezes horas do dia
À noite, momento oportuno d’agonia
Uma luz, uma lua misteriosa de néon

Um torpor de alma doce
Segui-te entre linhas sinuosas do céu
Vibrante melodia o teu clamor

Deu-se a madrugada — eu não dormia
Murmúrios, queixumes, rara melodia
Perfumes de rosas tristes eu bebia

E foram assim outros dias
Agora, ‘inda é verão, mas esfria
Tanto a distância que coração nenhum

Permite ou denuncia
Razões que ora me venciam
Se a chuva é fertilidade

Ora! Está chovendo
E o meu canto é um rio complacente
Corre rio — o mar é a tua nascente!
In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

Cavaleiro

Pq. da Aclimação 2007 - São Paulo-Br.
Continua o clima do universo tempestivamente fiel
Rigorosamente absoluto como a eternidade mais nada
Vaga noite sem hora certa avulsa e pulsa indiferentemente
Descabida ao compasso dos meus pés descalços e sujos e
Cansados e mutilados das desilusões

Irmão dos meus encantos oculares
Ficaram meus sonhos retidos no mito
Perdidos na nitidez patética da emoção
Hoje regresso como o inverno regressa da
Estação sem rítimo certo e mais frio

Ainda assim, recorro a tua magia
Corro invencivelmente à beira mar
À beira luz, à beira areia branca
Espumas flutuantes do mar sem-fim

Nada disso me devolve a tempestade
Idolatrada de viver — nada disso me recua
Mas a amargura empurra a consciência dolorosa
Insólito ser

Ficamos assim... E entre quatro paredes transparentes
Visto como um outro ente inferior das horas mortas
Visto como um suposto argonauta desse idôneo abissal
Visto como um astronauta desse tempo perene

Perfeito paladino Dom Quixote
Estúpido e leve e incessante
Ainda assim não serei o último
Nem o primeiro cavaleiro a bradar
Arriba! Arriba!

Todos nós Cervantes!

In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Eu me lembro

Desse tempo próspero
De alegria e de prazer
Desse remoto paraíso trópico
Desse longínquo céu de lazer
Onde fora o vento um dia
Gracejar com o meu lamento

Cego eu estava e sem memória
De certo eu vivia embriagado
Tonto e seduzido
Escravizado ao meu destino
Triste fado
Esse infortúnio ingrato

Ainda eu me lembro desse tempo fantástico
Glória onde sonhei um derradeiro olhar
Manhãs sombrias e preces
Um adeus tristonho
A lamentar

Nada disso eu sei
Nada disso eu sei
Foi o teu olhar
In Janelas abertas -1ª ed. nov 2007

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Conto de natal

Quem vem a minha casa vê um pé-de-abacateiro
Num pedacinho de terra dividida ao meio e flores
Separado por um muro contíguo à parede
D’outro lado um viveiro
Tem dez ou quinze aves
Uma ou duas galinhas poedeiras
Um galo novo e nove pintinhos
Que encantam meu pai
Ele os trata como bebês

De vez em quando me dou conta
Sentado à mesa de um franguinho
Que o vi crescer
Mamãe não gosta
De que eu diga nada assim

À parede uma gaiola pendurada
Um pássaro verde-amarelo e estranho
Lembra-me uma araponga
Quando canta que por acaso
A vi noutra gaiola pendurada

Papai diz que é um filhote de papagaio
Vindo da Amazônia do meu irmão
Não se sabe quando se têm notícias
Ele ainda vai falar
Ele ainda vai voltar

Quem passa juntinho ao portão da minha casa
É chamado à atenção aos latidos de dois cães
Vira-latas dóceis e agora também se pode ver
Um jabuti de casco sujo
Velho e se arrastando e solitário
Tento apreciar a sua idade
Deve ter mais de trinta e oito

À sombra da laje nova
Vai papai se embalando
Há vida numa rede azul
Vindo da Amazônia e da
Saudade no peito

Num canto do céu nem sei se é o horizonte
Escondem-se ogivas de prédios em mata verde
Antes da fumaça das fábricas progressistas
Longe... Lá vem na rota um avião!
E as nuvens se mancham de vermelho-ocre

Ao pôr-do-sol alguns pardais vêm buscar o abacateiro florido
Que não cresce mais por convicções políticas presidenciais
Mamãe nem liga para o horário-de-verão
Vem jantar meu filho!
“Vem comer desta ilusão”
In Janela abertas - 1ª ed. nov 2007

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

PAULICÉIA

Cidade grande
Aqui vive mundo inteiro
Aqui passam pedestres e cafajestes
Ligeiro passa metrô, avião e tensão
Aqui voam sonhos de riqueza fácil
Voam pardais, andorinhas e gaviões e
Voam pombos sujos e morcegos silvestres
À noite, voam moças bonitas
Travestis, gigolôs e camelôs
Pernoitam madrugadas meretrizes
Confundem-se indigentes
Rondas taciturnas e vômitos
Escarros e detritos fisiológicos
Gritos e gemidos e sussurros
Amanhece e manchetes nos jornais
E revistas universais
Olha o moleque-pivete!
Lê manchetes promessas!
Vê a Catedral celeste grita!
Olha a Sé — Santo! Ouve o sino!
Onde bate as esperanças
São Paulo não sonha e cresce
In Janelas abertas - 1ª ed. nov 2007

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

COLISEVM

- TOURADA DO HORROR!

Cada povo tem a sua história e a sua tradição
Alguns matam e comem cães e insetos secos
Outros prendem passarinhos em gaiolas sujas
Criam ratinhos brancos e coelhinhos e cobaias
Sacrificam as tartarugas e os peixes-boi em rios
Genocidam golfinhos e botos e baleias sangram
Outros desfloram matas virgens e cospem óleo e
Sujam lagoas e mancham rios e mares já cansados
E explodem humanos avulsos em minas de quintais
O quê se há de fazer com tanto fel de doidos irados
E surdos e cegos os espanhóis torturam e torturam
O touro urra em sangue quente do horror e da alegria
Hesitante ao grito humano animal malvado peninsular
Aço-ferro garrote vil da herança maldita e pagã à imitação
Bizarra d’arena romana COLISEVM de bárbaros medíocres
De rudes brincalhões que se divertem em Templo de êxtases
De leão de pão e não se civilizam e clamam e cantam de tradição
In Verdades - 18 jan 2006

sábado, 5 de janeiro de 2008

Sabores do chão

Que gosto vocês têm?
- Tenho gosto de sal
- Sou salobra ácida
Disseram-me que sou universal

Quantos anos vocês têm?
- Tenho ônus e luas e sóis constantes,
Mas vivo às sombras frias ou escaldantes
Disseram-me que moro longe e sem semblante

Então, quantos amores vocês têm?
- Tenho um tenho dois tenho três e mais
Durante o dia pássaros cantam sem rivais

Mas à noite, altas horas me levanto, sem encantos,
Sem embalo, não ouço cantos e grilos sobram em dissabores
Não sinto odores nem tenho paladar - insossos.
In Verdades - 13 jan 2006

Enfadonho

Cansei de ler poesias, porque as poesias são
Palavras doces que, às vezes, se me confortam,
Outras vezes, muito mais me entristecem.

Os versos dão sempre no mesmo tom, as metáforas gritam
Roucas e tanto exageram àquilo absurdamente sabido e cansativo,
Mais parece trovão em céu escuro partido ao impossível do nada.

Palavras, nomes que me deram das coisas que não acontecem nunca.
Substâncias, substantivos, adjetivos me deram e muito me sobram em vão.
Verbos gritam em tempos viciosos e hábitos abundantes me sugerem solidão.

Os versos são males que chegam assim de distantes e dolorosos se instalam,
Muitos adormecem no peito e câncer sofrido me cansa em tabuleiro de vencidos
medíocres e incontestes sem nenhuma palavra viva.

Incontinenti se posta peões, cavalos e torres a proteger Bispos malvados incrédulos
e doentes, Rainhas arrogantes, entretanto, tristes e sós discípulas enfadonhas
de déspotas vencidos.
Sem Poesia, verdade nenhuma.
In Verdades - set 2007

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Distração em dezembro

Mulher, em que tu pensas enfim? Se pensas só nas vidas, e de quem seja? Vê se vale à pena pensar ao acaso! Esquecer-te em distração o mundo por fração de segundo, adianta muito ao teu consolo? Para quem são endereçados os teus pensamentos, e para onde vão os teus cordeirinhos selvagens? Da esteira branca à luz do sol transparente da manhã de dezembro, 29, resta-te o tempo fiel às coisas sem respostas certas ao vento que te carrega em plumas leves nas asas dos pardais e bem-te-vis do teu silêncio imperioso.

Oh – mulher! Das tantas outras que vi, tornaste-me único olhar, então, em que tu pensas enfim? Se por acaso for ao meu ciúme cantado em signo do zodíaco, nem considere tal confiança alheia, porque dos astros tudo o quê se pode esperar, se não for o clarão da Lua em noites cheias de esperança, a luz do Sol que nos deu o brilho desta manhã, outra coisa não vem que não seja retrato invisível, pueril colheita de frutos em pomares distantes, inexorável céus do teu pensamento.

Deste então, mulher tão ausente! Chego a imaginar que tu não pensas nas estrelas desse Natal, deste verão, deste Ano Novo, deste sol de piscina à pele clara de nossa criancinha, tampouco eu me exponho ao risco de tuas longas viagens sem vivê-las, nem senti-las, por acaso, não te acompanho às nuvens serenas que te encobre em lençóis leitosos em brisas frescas do mormaço do meio-dia, e às vezes te protege ao grito incômodo dos perfis, à sombra que te quero só.

Não me veja desse modo. Não te incomodo mais, mulher! Assim, se do meu sonho tu foste à imagem síntese o prêmio à minha grata realidade, e a vida ainda também me presenteou um templo ao sol, e todas as manhãs as silhuetas presentes da senhora Mãe, honrosa Madona! Juntei-me a ti e aos teus ais, inquietos pensamentos em linhas retas nas curvas do Universo, e seguimos juntos às nossas coisas do mundo. Cerquei-me da tua estátua em ilhéus, de duchas, esteira de descanso, chinelos coloridos e delicados, teus pés brancos, flores e revista ao bronze, ouro do céu em nossas mãos!
In verdades - 29 dez 2007